sábado, 27 de junho de 2015

Do “Credo” em geral



 “A fé é o fundamento do que se espera e a convicção das realidades que não se vêem. Foi a fé que fez a glória dos antigos. Pela fé sabemos que o universo foi criado pela palavra de Deus, de sorte que do invisível teve origem o visível. Pela fé Abel ofereceu a Deus sacrifício melhor do que Caim e por ela foi declarado justo, tendo Deus aprovado as suas oferendas, e é pela fé que depois de morto Abel continua a falar”.

Epístola aos hebreus 4, 1-4


Nosso estudo hoje será breve. Falaremos da primeira parte da doutrina cristã: o Credo (ou Símbolo dos Apóstolos). Falaremos do que ele é, o que traz consigo. Tudo muito geral. Porque depois disso, estudaremos artigo por artigo dele e é bastante extenso cada um. Imagino que quase todos serão necessários dois posts.

Então vamos lá.


15) Qual é a primeira parte da Doutrina Cristã?
A primeira parte da Doutrina Cristã é o Símbolo dos Apóstolos, chamado vulgarmente Credo.

16) Por que chamamos ao Credo Símbolo dos Apóstolos?
O Credo chama-se Símbolo dos Apóstolos, porque é um compêndio das verdades da Fé, ensinadas pelos Apóstolos.


O catecismo Romano diz

“Os cristãos devem saber, em primeiro lugar, as verdades que os santos Apóstolos, guias mestres da fé, inspirados pelo Espírito de Deus, distribuíram nos doze Artigos do Símbolo.

Tendo recebido do Senhor a ordem de irem como Seus embaixadores (IICor 5,20), pelo mundo inteiro, a pregar o Evangelho a toda criatura (Mc 16,15), os Apóstolos acharam que se devia compor uma fórmula de fé cristã. Serviria esta para que todos tivessem a mesma crença e a mesma linguagem, e não houvesse separações entre os que foram chamados: à unidade da mesma fé, mas fossem todos “perfeitamente conformes no mesmo modo de pensar e de sentir”(ICor 1,10)” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. I, §2)

“A esta profissão de fé e esperança cristã, que acabavam de redigir, os Apóstolos chamaram-lhe “Símbolo”, ou porque se forma das várias proposições que cada um deles apresentou (*), ou porque devia servir de senha para identificar os desertores, os irmãos falsos e intrusos (Gl 2,4) que adulteravam o Evangelho (IICor 2,17), e assim distingui-los daqueles que verdadeiramente tomavam um santo compromisso na milícia de Cristo.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. I, §3)
 
(*) A Tradição afirma que antes de se espalharem pelo mundo pregando o Evangelho os Apóstolos comporam o Credo, cada um com uma fórmula (são doze artigos no credo).


Por isso que o Credo é também chamado de Símbolo dos Apóstolos, desde o primeiro século da Igreja. Existem outros credos, formulados posteriormente (niceno-constantinopolitano, de Santo Atanásio, etc.).

No catecismo estudamos o Símbolos do Apóstolos por ser primordial, deixado pelos próprios Apóstolos como o essencial. Vejamos o seu conteúdo.

“Muitas são as verdades que a religião cristã propõe aos fiéis, com a obrigação de aceitá-Ias numa fé inabalável, quer cada uma delas em particular, quer todas em seu Conjunto. Mas a primeira verdade e a mais essencial, que todos devem acreditar, por ser propriamente a base e o resumo da Revelação, consiste naquilo que o próprio Deus nos ensinou acerca da unidade da essência divina, da distinção das três Pessoas, das operações que lhes são atribuídas de maneira mais particular.”  (Catecismo Rom., Parte I, Cap. I, §4)

Neste parágrafo vemos no que se resume o Credo.

Os Santos Apóstolos tiveram o cuidado de fixar o essencial da nossa fé no seu Símbolo. Deus, a Santíssima Trindade, a unidade e distinção das 3 pessoas divinas e suas operações.

Essa é a primeira Verdade da nossa fé.

“O Símbolo divide-se em três partes, como já diziam os antigos cristãos, quando se punham a explicá-lo com amor e cuidado. A primeira parte trata da Primeira Pessoa da natureza divina, e da prodigiosa obra da Criação. A segunda trata da Segunda Pessoa e do mistério da Redenção dos homens. A terceira afinal descreve, em várias fórmulas adequadas, a Terceira Pessoa, autor e princípio de nossa santificação.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. I, §4).

“As proposições do Símbolo chamam-se “Artigos”, de acordo com uma analogia que nossos Santos Padres usavam com frequência. Na verdade, assim como os membros do corpo se distinguem pelas articulações, assim também podemos chamar Artigos às verdades que nesta profissão de fé temos de crer, distintas e separadas umas das outras.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. I, §4)


Passemos agora aos artigos

(obs.: toda vez que eu postar Perguntas e respostas com uma numeração da pergunta, estou seguindo o Catecismo de São Pio X)

Lá vai


17) Quantos artigos tem o Credo?
O Credo tem doze artigos.

18) Dizei-os.
1) Creio em Deus Padre, todo-poderoso, Criador do céu e da terra.
2) E em Jesus Crista, um só seu Filho, Nosso Senhor.
3) qual foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu de Maria Virgem.
4) Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado.
5) Desceu aos infernos, ao terceiro dia ressurgiu dos mortos.
6) Subiu ao Céu, está sentado à direita de Deus Padre todo-poderoso.
7) De onde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
8) Creio no Espírito Santo.
9) Na Santa Igreja Católica; na comunhão dos Santos.
10) Na remissão dos pecados.
11) Na ressurreição da carne.
12) Na vida eterna. Amém


Como falei antes, estudaremos cada um desses artigos. Vamos "destrinchar" a doutrina por trás de cada um deles.


19) Que quer dizer a palavra “Credo, eu creio” que dizeis no começo do Símbolo?
A palavra “Credo, eu creio” quer dizer: eu tenho por absolutamente verdadeiro tudo o que nestes doze artigos se contém; e o creio mais firmemente do que se o visse com os meus olhos, porque Deus, que não pode nem enganar-Se nem enganarnos, revelou estas verdades à Santa Igreja Católica, e por meio dEla eis revela também a nós.

20) Que contêm os artigos do Credo?
Os artigos do Credo contêm tudo o que de mais importante devemos crer acerca de Deus, de Jesus Cristo e da Igreja, sua Esposa.

21) É muito útil rezar frequentemente o Credo?
É utilíssimo rezar frequentemente o Credo, para imprimirmos cada vez mais no coração as verdades da Fé.

Finalizando o estudo de hoje, nos deparamos com essa verdade dita no catecismo: É utilíssimo rezar frequentemente o Credo, para imprimirmos cada vez mais no coração as verdades da Fé.

Quando rezamos uma devoção, as verdades contidas naquelas orações nos acompanharão sempre
Exemplos são muitos, como a grande confiança em Nossa Senhora daquele que reza:  “Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido  Vossa proteção, implorado a vossa assistência e reclamado o Vosso socorro, fosse por Vós desamparado. [...]”.

Assim, rezar muitas vezes o Credo nos faz não só conhecer os principais artigos da nossa fé como também nos faz pouco a pouco mergulhar em cada verdade nele contida.

Hoje falamos sobre o Credo, o Símbolo dos Apóstolos. No próximo post falaremos do primeiro artigo: 1) Creio em Deus Padre, todo-poderoso, Criador do céu e da terra.

Lição preliminar


Nesse segundo dia veremos a parte preliminar no Catecismo de São Pio X, compostas de 14 perguntas que subdividi em 4 grupos:

- Ser Cristão
- A Verdade necessária
- A portadora da Verdade
- As partes principais e mais necessárias da Doutrina Cristã




1) Sois cristão?
Sim, sou cristão pela graça de Deus.

2) Por que dizeis pela graça de Deus?
Digo: pela graça de Deus, porque o ser cristão é um dom de Deus, inteiramente
gratuito, que nós não podemos merecer.

3) E quem é verdadeiro cristão?
Verdadeiro cristão é aquele que é batizado, crê e professa a doutrina cristã e obedece
aos legítimos Pastores da Igreja.

4) Que é a Doutrina Cristã?
A Doutrina Cristã é a doutrina que Jesus Cristo Nosso Senhor nos ensinou, para
nos mostrar o caminho da salvação.

O que veremos hoje está muito ligado ao nosso primeiro tema. Nessas 4 primeiras perguntas o catecismo nos ensina o que é o cristão. Primeiro nos diz: “o ser cristão é um dom de Deus”. Isto se explica quando diz o que é o cristão: “aquele que é batizado, crê e professa a doutrina cristã e obedece aos legítimos Pastores da Igreja”. Assim, o cristão tem a fé, que é infundida por Deus, dom de Deus.

“Realmente, o fim que se propõe ao homem para sua bem-aventurança, é tão elevado que o não poderia descobrir a agudeza do espírito humano. Era, pois, necessário que o homem recebesse de Deus tal conhecimento.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. I, I-1)

“Quando Pedro confessa que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, Jesus declara-lhe que esta revelação não lhe veio «da carne nem do sangue, mas do seu Pai que está nos Céus» (Mt 16, 17) (*). A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele. «Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte o coração para Deus, abre os olhos do entendimento, e dá "a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade"» (**).” (CIC §153)

(*) Cf. Gl 1, 15-16; Mt 11, 25.
(**) Dei Verbum,5

Deus, na Sua infinita bondade, nos criou para a bem aventurança e para isso nos concede o dom da fé. De incontáveis maneiras nos comunica Sua vontade, e nos concede a graça de nos prepararmos para que possamos dar nosso assentimento. Para aceitar Seus planos. Só assim, com o nosso desejo voluntário de aceitar a vontade de Deus, passamos a possuir o dom gratuito da fé. Tudo inicia por Deus e para Ele se dirige. Ele dá o passo inicial. Além de se revelar, dá a graça necessária para aceitarmos a revelação. É preciso uma resposta nossa. No nosso assentimento Deus nos infunde seus dons e graças para que alcancemos a vida eterna.

Dessa forma, ser cristão (ser batizado, crer e professar a doutrina cristã e obedecer aos legítimos Pastores da Igreja) é um dom que Deus nos dá em nosso assentimento à Sua bondade infinita. Um dom que não merecemos por sermos simples criaturas, não só por nosso estado de pecado. Diante do Criador nada merecemos, tudo ganhamos gratuitamente porque assim Ele quer dar.


A doutrina cristã é tudo aquilo que Jesus ensinou. Veremos agora que essa doutrina é necessária.


5) É necessário aprender a doutrina ensinada por Jesus Cristo?
Certamente, é necessário aprender a doutrina ensinada por Jesus Cristo, e cometem falta grave aqueles que se descuidam de o fazer.

6) Os pais e patrões estão obrigados a mandar ao catecismo os seus filhos e dependentes?
Os pais e patrões são obrigados a procurar que seus filhos e dependentes aprendam a Doutrina Cristã; e são culpados diante de Deus, se desprezarem esta obrigação.

7) De quem devemos nós receber e aprender a Doutrina Cristã?
Devemos receber e aprender a Doutrina Cristã da Santa Igreja Católica.


Como vimos no primeiro dia, para salvar a nossa alma devemos crer tudo que Nosso Senhor ensinou e fazer tudo o que Ele mandou. Portanto, é necessário aprender, é necessário buscar, é necessário saber “das coisas de Deus”. Devemos dar uma grande importância para isso. Não só quanto ao nosso crescimento na fé, mas no de todos os que estão sob nossa guarda, principalmente os filhos. Velar para que tenham uma boa educação católica, que aprendam desde o berço a obra da nossa Redenção.

“Ninguém terá justo motivo de duvidar que essa fé seja necessária para a salvação, mormente por estar escrito que “sem fé não é possível agradar a Deus” (Hb 11,6)”. (Catecismo Rom., Parte I, Cap. I, I-1)

“Para obter a salvação é necessário acreditar em Jesus Cristo e n'Aquele que O enviou para nos salvar (*).  «Porque “sem a fé não é possível agradar a Deus” (Hb 11,6) e chegar a partilhar a condição de filhos seus; ninguém jamais pode justificar-se sem ela e ninguém que não “persevere até o fim” (Mt 10,22; 24,13) poderá alcançar a vida eterna» (**).” (CIC §161)

(*) Cf. Mc 16, 16; Jo 3, 36: 6, 40
(**) I Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c 3: DS 3012; cf. Concílio de Trento, Sess. 6ª, Decretum de iustificatione, c. 8: DS 1532

Agora há de convir que se tenha a dúvida: onde buscar a doutrina de Nosso Senhor??? Muitos respondem imediatamente “na Bíblia”. Outros, sem muita prontidão dizem “indo à missa”. É preciso crer e professar que a Igreja fundada por Nosso Senhor é a detentora da Revelação. Nós, membros desta Igreja desde o Batismo, devemos buscar a doutrina de Nosso Senhor nela para saciar nossa sede. Nela temos a plenitude da Revelação. As Sagradas Escrituras contém a Revelação, porém a plenitude desta se encontra no depósito da fé da Igreja, pois nem tudo está na Bíblia.

Sim. E não é para espanto. Nela mesma está escrito isso. E algo bem mais sério (de só se ater nas Sagradas Escrituras) está no fato de só o Magistério da Igreja poder dar a verdadeira interpretação de cada letra contida nas Sagradas Escrituras. Lutero, em suas 95 teses, defendia que o Espírito Santo dá a sabedoria a cada um para ler e interpretar o que Deus diz nas Sagradas Escrituras. Ele não foi o primeiro, apenas o desencadeador de toda a confusão de interpretações no meio protestante e (triste dizer isso) até entre católicos.

Portanto, na Igreja de Deus podemos aprender a doutrina de Nosso Senhor necessária a salvação. E de onde vem a certeza de ela possuir a doutrina de Nosso Senhor, realmente?



8) Como é que temos a certeza de que a Doutrina Cristã, que recebemos da Santa
Igreja Católica, é verdadeira?
Temos a certeza de que a Doutrina Cristã, que recebemos da Igreja Católica, é verdadeira, porque Jesus Cristo, autor divino desta doutrina, a confiou por meio dos seus Apóstolos à Igreja Católica, por Ele fundada e constituída Mestra infalível de todos os homens, prometendo-Lhe a sua divina assistência até a consumação dos séculos.

9) Há mais provas da verdade da Doutrina Cristã?
A verdade da Doutrina Cristã é demonstrada ainda pela santidade eminente de tantos que a professaram e professam, pela heróica fortaleza dos mártires, pela sua rápida e admirável propagação no mundo, e pela sua plena conservação através de tantos séculos de muitas e contínuas lutas.



A maior certeza de que a Igreja de Nosso Senhor possui Sua doutrina integral podemos ter quando estudamos sua história, nas cartas da Igreja primitiva. Nos documentos, concílios, etc. Nossa fé está documentada desde o início da Igreja. Mesmo tradicionalmente o ensino da doutrina nos primeiros séculos fosse de viva voz, muitos santos homens escreveram aquilo que Nosso Senhor confiou aos Santos Apóstolos desde o princípio.

Se nos voltamos ao passado, vemos com que maestria Nosso Senhor guiou Sua Igreja pelos séculos, de modo a nada em sua doutrina fugir daquilo que ensinou. A Didaqué é um dos mais antigos documentos. Nela podemos ver, por exemplo, a condenação do aborto. Santo Irineu escreve sobre a sucessão apostólica e o papado, etc., etc., etc. Inúmeras provas podemos tirar da história e muito mais ainda da vida dos santos homens que deram seu sangue em defesa de tudo isso.



10) Quantas e quais são as partes principais e mais necessárias da Doutrina Cristã?
As partes principais e mais necessárias da Doutrina Cristã são quatro: o Credo, o Padre-Nosso, os Mandamentos e os Sacramentos.

11) Que nos ensina o Credo?
O Credo ensina-nos os principais artigos da nossa santa Fé.

12) Que nos ensina o Padre-Nosso?
O Padre-Nosso ensina-nos tudo o que devemos esperar de Deus, e tudo o que Lhe devemos pedir.

13) Que nos ensinam os Mandamentos?
Os Mandamentos ensinam-nos tudo o que devemos fazer para agradar a Deus; em resumo, amar a Deus sobre todas as coisas, e amar ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.

14) Que nos ensina a doutrina dos Sacramentos?
A doutrina dos Sacramentos faz-nos conhecer a natureza e o bom uso desses meios que Jesus Cristo instituiu Para nos perdoar os pecados, comunicar-nos a sua graça, e infundir e aumentar em nós as virtudes da fé, da esperança e da caridade.


“A doutrina do Símbolo encerra tudo o que o magistério da Igreja nos propõe a crer, com relação a Deus, à criação e ao governo do mundo, à redenção do gênero humano, à recompensa dos bons e à punição dos maus.

A doutrina dos sete Sacramentos abrange os sinais que são, por assim dizer, instrumentos para se conseguir a graça divina.

O Decálogo descreve os Mandamentos, cujo fim é a caridade.

Finalmente, a Oração dominical contém tudo o que o homem possa querer, esperar e pedir para a sua própria salvação.

Explicados que forem estes quatro pontos, tidos como “lugares comuns” da Escritura, já não faltará quase nenhuma das verdades que o cristão deve saber para a sua instrução.” (Catecismo Rom., Proêmio § 12)


Sabemos que o cristão é aquele que (também) professa a fé da Igreja e que é o mesmo que Nosso Senhor ensinou. E que a essa fé estamos obrigados a buscar e aceitar para a salvação de nossa alma. E temos o grande consolo de ter Deus como princípio e fim dela em nós, de modo que se a temos é porque Ele está operando.

Busquemos sempre mais, pois esse é nosso dever. Na próxima vez começaremos a tratar do Credo, o Símbolo dos Apóstolos.