quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Do oitavo artigo do “Credo”: creio no Espírito Santo



    “Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente veio do céu um ruído, como de um vento impetuoso, que encheu toda a casa em que estavam sentados. Viram aparecer, então, uma espécie de línguas de fogo, que se repartiram e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.


    Ora, em Jerusalém moravam judeus, homens piedosos, de todas as nações que há debaixo do céu. Ouvindo aquele ruído, acorreu muita gente e se maravilhava de que cada um os ouvisse falar em sua própria língua. Profundamente impressionados, manifestavam sua admiração e diziam: “Estes que estão falando não são todos galileus? Como, então, todos nós os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? Partos, medos, elamitas, os que habitam a Mesopotâmia, a Judéia, a Capadócia, o Ponto, a Ásia, a Frígia, a Panfília, o Egito e as províncias da Líbia, próximas de Cirene, peregrinos romanos, judeus ou convertidos ao judaísmo, cretenses e árabes – todos os ouvimos falar as grandezas de Deus em nossas próprias línguas. Atônitos e fora de si, diziam uns para os outros: “O que quer dizer isso?” Outros, zombando, diziam: “Eles estão cheios de vinho”.


Atos 2, 1-13


130) Que nos ensina o oitavo artigo do Credo: creio no Espírito Santo?
O oitavo artigo elo Credo ensina-nos que existe o Espírito Santo, terceira Pessoa da Santíssima Trindade, e que Ele é Deus eterno, infinito, onipotente, Criador e Senhor de todas as coisas, como o Padre e o Filho.


Sentido e importância do Artigo

“Com o vagar que exigia a natureza do assunto, expusemos até agora as verdades referentes à Primeira e à Segunda Pessoas da Santíssima Trindade. Atualmente, resta ainda explicar o que no Símbolo se contém a respeito da Terceira Pessoa, que é o Espírito Santo.

Na explicação desta matéria, devem os pastores esforçar-se com todo o interesse, porque o cristão não pode, tampouco, ignorar esta parte do Símbolo, nem ter dela uma noção menos exata que dos Artigos anteriores.

1. Necessidade de conhecer o Espírito Santo:        Por isso, o Apóstolo não tolerou que alguns dos Efésios ignorassem a Pessoa do Espírito Santo. Quando lhes perguntou se tinham recebido o Espírito Santo, eles responderam que nem sabiam sequer da existência do Espírito Santo. Então [logo] se informou: “Em que Batismo, pois, fostes vós batizados?” (At 19,2ss). Com tais palavras, deu a entender a absoluta necessidade de terem os fiéis uma noção clara do presente Artigo.

2. Fruto desse conhecimento:        Quando os cristãos meditam seriamente que, por mercê e dádiva do Espírito Santo, receberam tudo quanto possuem (1Cor 12,3-4), o primeiro fruto de tal conhecimento é começarem a ter de si mesmos uma opinião mais modesta e humilde, e a pôr toda a sua esperança no auxílio de Deus. Este deve ser o primeiro passo do cristão para as alturas da sabedoria e da felicidade.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IX, §1).


131) De quem procede o Espírito Santo?
O Espírito Santo procede do Padre e do Filho como de um só princípio, por via de vontade e de amor.

132) Se o Filho procede do Padre, e o Espírito Santo procede do Padre e do Filho, parece que o Padre e o Filho existem antes do Espírito Santo. Como então se diz que são eternas todas as três Pessoas divinas?
Diz-se que são eternas todas as três Pessoas divinas, porque o Padre gerou o Filho desde toda a eternidade, e do Padre e do Filho procede o Espírito Santo, também desde toda a eternidade.


Verdadeiro Deus, igual ao Padre e ao Filho

“Dada a explicação dos termos, deve o povo aprender, em primeiro lugar, que o Espírito Santo é Deus, como o Padre e o Filho, igual a Eles, da mesma onipotência, da mesma eternidade, de suma bondade, de infinita sabedoria, da mesma natureza que a do Padre e do Filho.

Esta igualdade é bem expressa pela partícula “em”, quando dizemos: “Creio no Espírito Santo”. Colocamo-la junto ao nome de cada Pessoa da Santíssima Trindade para exprimir a extensão de nossa fé.

Provas na Escritura

a) Atos dos Apóstolos...        Ora, esta doutrina é também corroborada por evidentes testemunhos da Sagrada Escritura. São Pedro disse, nos Atos dos Apóstolos: “Ananias, por que tentou Satanás o teu coração para mentires ao Espírito Santo?” - e logo acrescentou: “Não mentiste aos homens, mas a Deus” (At 5,3-4). Sem demora designou, como Deus, Aquele que antes chamara “Espírito Santo”.

b) São Paulo...        Na epístola aos Coríntios, o Apóstolo se referia ao Espírito Santo, quando falou d'Aquele que era Deus. “Há diversas operações, diz ele, mas é o mesmo Deus que tudo opera em todos”. E pouco depois acrescentou: “Mas, todas estas coisas são obras de um só e mesmo Espírito, que as distribui a cada um, como é de Seu agrado” (1 Cor 12,6-11).

De mais a mais, nos Atos dos Apóstolos, [São Paulo] atribui ao Espírito Santo o que os Profetas atribuíam unicamente a Deus.

c) Isaías...        Isaías havia declarado: “Ouvi a voz do Senhor que dizia: Quem hei de enviar? E falou-me: Vai, e dirás a este povo: Obceca o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos, e cerra-lhe os olhos, para que não aconteça verem com os próprios olhos, e ouvirem com os próprios ouvidos” (cf. Is 6,8-10).

O Apóstolo cita estas palavras, e comenta: “Bem falou o Espírito Santo pela boca do profeta Isaías” (At 28,25).

d) a fórmula do Batismo.        Não há como duvidar da verdade deste Mistério, já que a Escritura põe na mesma plana a pessoa do Espírito Santo com o Padre e o Filho; quando ordena, por exemplo, empregar no Batismo o nome do Padre, e do Filho, e do Espírito Santo (Mt 28,19). Realmente, se o Padre é Deus, e o Filho é Deus, força nos é confessar que o Espírito Santo também é Deus, pois que Lhes fica ligado pelo mesmo grau de dignidade.

Uma prova a mais é que nenhum fruto se pode tirar do Batismo que fosse conferido em nome de alguma criatura. “Porventura fostes vós batizados em nome de Paulo?” (1 Cor 1,13) pergunta o Apóstolo, a fim de mostrar que tal Batismo de nada lhes adiantaria para a salvação. Portanto, uma vez que nos batizamos em nome do Espírito Santo, cumpre confessar que Ele é Deus.

e) São João... Doxologia Litúrgica        Esta justaposição das três Pessoas, pela qual se demonstra a divindade do Espírito Santo, podemos averiguá-la, quer na epístola de São João: “Três são os que no céu dão testemunho: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo, e estes três são um só” (1 Jo 5,7); - quer naquela gloriosa aclamação da Trindade Santíssima, que remata o Oficio Divino e os Salmos: “Glória ao Padre, e ao Filho, e ao Espírito Santo”.

f) aplicação de tributos divinos        Afinal, uma grande confirmação desta verdade é que as Escrituras aplicam ao Espírito Santo todos os atributos que a fé nos ensina serem próprios de Deus.

Reconhece-Lhe a honra dos templos, quando por exemplo o Apóslolo declara: “Ignorais, talvez que vossos membros são templos do Espírito Santo?” (1 Cor 6,19).

Atribuem-Lhe também as operações de “santificar” (2 Ts 2,12; 1 Pd 1,2), de “vivificar” (Jo 6,64), de “penetrar os arcanos de Deus” (1 Cor 2,10), de “falar pela boca dos Profetas” (2 Pd 1,21), de “estar em toda a parte” (Sl 138,7; Sb 1,7). Tudo isto só pode enunciar-se com relação à Majestade Divina.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IX, §4).

Terceira Pessoa da Santíssima Trindade

“Com a devida atenção, é preciso ainda explicar aos fiéis que o Espírito Santo é Deus, mas que devemos confessá-l'O como Terceira Pessoa [da Santíssima Trindade], distinta do Padre e do Filho, dentro da natureza divina, e produzida pela vontade [de um e de outro].

Sem alegar outros argumentos da Escritura, a fórmula de Batismo, ensinada por Nosso Redentor, mostra com evidência que o Espírito Santo é a Terceira Pessoa, que subsiste por Si mesma na natureza divina, [inteiramente] distinta de ambas as outras Pessoas.

Assim o declara também o Apóstolo na saudação: “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, e a caridade de Deus, e a comunhão do Espírito Santo, seja com todos vós. Amém!” (2 Cor 13,13).

A doutrina de Nicéia-Constantinopla
a) o “Senhor”        Prova de maior evidência ainda é o acréscimo, que a este Artigo fizeram os Padres do Primeiro Concílio de Constantinopla (convocado em 381), para rebaterem o ímpio desatino de Macedônio: [creio] no Espírito Santo, [que também é] Senhor, e dá vida; o qual procede do Padre e do Filho; o qual, com o Padre e o Filho, é juntamente adorado e glorificado; [e] foi quem falou pelos Profetas”.

Ora, confessando que o Espírito Santo é Senhor, [os Padres do Concílio] declaram-n'O infinitamente superior aos Anjos, não obstante serem estes criados por Deus como os espíritos mais perfeitos. No sentir de São Paulo, os Anjos são, “todos eles, espíritos servidores, enviados a servir, em benefício daqueles que conseguem a herança da salvação” (Hb 1,14).

b) o “Vivificador”        Chamam-Lhe, porém, “Vivificador”, porque a alma tira da união com Deus uma vida mais intensa, do que o sustento e a conservação, que o corpo aufere de sua união com a alma. Como a Escritura atribui ao Espírito Santo esta união da alma com Deus (Rm 8,9ss), é claro que de pleno direito seja chamado o “Vivificador”.

c) “procedente” do Padre e do Filho        Seguem-se [no Símbolo de Constantinopla] as palavras: “O qual procede do Padre e do Filho”. Como explicação, cumpre pois ensinar aos fiéis que o Espírito Santo procede do Padre e do Filho como de uma origem única, numa eterna processão. Assim no-lo propõe a crer o cânon de fé da Igreja, do qual não pode o cristão apartar-se; e assim o confirma a autoridade da Escritura e dos Concílios.

Corolários:

1. O Espírito de Cristo        Cristo Nosso Senhor disse, numa ocasião que falava do Espírito Santo: “Ele Me glorificará, porque há de tomar do que é Meu” (Jo 16,14).

A mesma verdade se releva do fato de que, nas Escrituras, o Espírito Santo é chamado, ora “Espírito de Cristo” (At 16,7), ora “Espírito do Pai” (Rm 8,9; At 8,39). Ora se diz que é enviado pelo Pai (At 2,17ss; Mt 10,20; Jo 14,26; Gl 4,6), ora pelo Filho (Jo 15,26; 16,7), para mostrar, com bastante clareza, que tanto procede do Pai, como do Filho.

Diz São Paulo: “Quem não possui o Espírito de Cristo, esse Lhe não pertence” (Rm 8,9). Escrevendo aos Gálatas, o mesmo Apóstolo chama-Lhe Espírito de Cristo: “Enviou Deus a vossos corações o Espírito de Seu Filho, que clama: Abba, Pai!” Gl 4,6.

2. O Espírito do Pai        No Evangelho de São Mateus, é chamado “Espírito do Pai”: “Não sois vós quem fala, mas o Espírito de vosso Pai” (Mt 10,20). Na última Ceia, Nosso Senhor explicou-Se assim: “O Consolador que Eu vos hei de enviar, o Espírito da verdade, que do Pai procede, Ele dará testemunho de Mim” (Jo 15,26). Noutra parte, afirma que o mesmo Espírito Santo será enviado pelo Pai: “[O Espírito Santo] que o Pai há de enviar em Meu nome” (Jo 14,26). Ora, tal linguagem se refere à processão do Espírito Santo; mostra, pois, claramente, que o Mesmo procede de ambos, [Pai e Filho].

São estes os pontos que se devem ensinar, com referência à Pessoa do Espírito Santo.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IX, §5).


133) Por que a terceira Pessoa da Santíssima Trindade se designa particularmente com o nome de Espírito Santo?
Designa-se a terceira Pessoa da Santíssima Trindade particularmente com o nome de Espírito Santo, porque procede do Padre e do Filho por meio de expiração e de amor.


A Pessoa do Espírito Santo

Nome:        “A exposição do Artigo deve começar pelo sentido que, neste lugar, se dá ao termo “Espírito Santo”. Com toda a propriedade, é atribuído o mesmo nome ao Padre e ao Filho, pois que ambos são “Espírito” (Jo 4,24; 2 Cor 3,17) e “Santo” (Is 6,3; Ap 4,8); e que, de nossa parte, confessamos que Deus é um [puro] espírito. Além disso, aplicamos a mesma designação aos Anjos (Sl 103,4; Hb 1,7) e às almas dos justos (Sl 145,4; Ecles 12,7). Portanto, é preciso atender que o povo não caia em erro, pela ambiguidade de expressão.

Significação, Testemunhos bíblicos:        Devemos ensinar que, neste Artigo, o nome de “Espírito Santo” indica a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, conforme o sentido que ocorre nas Sagradas Escrituras, algumas vezes no Antigo, e com frequência em o Novo Testamento.

Assim rezava David: “E não tireis de mim o Vosso Espírito Santo!” (Sl 50,13). No Livro da Sabedoria lemos a passagem: “Quem conhecerá os Vossos desígnios, se Vós lhe não derdes a sabedoria, e das maiores alturas lhe não enviardes o Vosso Santo Espírito?” (Sb 9,17). E noutro lugar: “Ele próprio a criou [a sabedoria] no Espírito Santo” (Ecles 1,9).

Em o Novo Testamento, recebemos ordem de sermos batizados “em nome do Padre, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28,19). Lemos também que a Santíssima Virgem “concebeu do Espírito Santo” (Lc 1,35; Mt 1,18-20). São João [Batista] envia-nos a Cristo, que “nos batiza no Espírito Santo”. Quando lemos as Escrituras, depara-se-nos a mesma expressão em muitos outros lugares.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IX, §2).

Nome comum...        “Ninguém deve estranhar que à Terceira Pessoa se não conferisse nome próprio, como foi dado à Primeira e à Segunda.

Tem nome próprio a Segunda Pessoa, e chama-se Filho, porque Sua eterna origem do Pai se diz propriamente “geração”. Isto foi explicado nos Artigos anteriores. Por conseguinte, como aquela origem é designada pelo nome de geração, assim damos o Nome próprio de Filho à Pessoa que descende, e de Pai à Pessoa da qual descende.

Como não se pôs designação particular à origem da Terceira Pessoa, mas veio a chamar-se sopro ou processão, segue-se que a Pessoa [assim] produzida não leva nome próprio.

... motivo de não haver nome próprio        A razão de não haver nome próprio para a origem do Espírito Santo, é porque somos obrigados a tirar das coisas criadas os nomes que se atribuem a Deus. Ora, nas criaturas não conhecemos outra maneira de comunicar natureza e essência, senão a que se opera em virtude da geração. Daí nos falta a possibilidade de exprimir, em termo adequado, como Deus Se comunica inteiramente a Si próprio pela força do amor. Este é o motivo de chamarmos a Terceira Pessoa pelo nome comum de “Espírito Santo”.

Apesar disso, reconhecemos que o nome Lhe vai com propriedade; porque é o Espírito Santo que nos infunde a vida espiritual, e, sem o sopro de Seu poder santíssimo, nada logramos fazer que seja digno da vida eterna.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IX, §3).


134) Que obra se atribui especialmente ao Espírito Santo?
Ao Espírito Santo atribui-se especialmente a santificação das almas.

135) O Padre e o Filho santificam-nos também, como o Espírito Santo?
Sim, todas as três Pessoas divinas nos santificam igualmente.

136) Se é assim, por que atribui-se ao Espírito Santo a santificação das almas?
Atribui-se em particular ao Espírito Santo a santificação das almas, porque é obra de amor, e as obras de amor atribuem-se ao Espírito Santo.


Efeitos do Espírito Santo

1. Operações em geral:

“É preciso ainda ensinar que existem certos efeitos sublimes, e certos dons preciosos que são próprios do Espírito Santo, e d'Ele nascem e se derivam, como de uma fonte inexaurível de bondade.

Ainda que as operações exteriores da Santíssima Trindade são comuns às três Pessoas, muitas delas se atribuem de modo particular ao Espírito Santo, para entendermos que partem do infinito amor de Deus para conosco. Já que o Espírito Santo procede da vontade divina, enquanto abrasada de amor, é óbvio que as operações, atribuídas de modo particular ao Espírito Santo, promanam do soberano amor de Deus para conosco.

Por isso é que o Espírito Santo se chama “dom” [por excelência]: conceito que exprime uma doação, feita por benevolência, a título gratuito, sem nenhum interesse de retribuição. Sendo assim, devemos reconhecer, com piedosa gratidão, que os bens e benefícios que de Deus temos recebido. Se o Apóstolo pergunta: “Que temos nós, que de Deus não tenhamos recebido?” (1 Cor 4,7) - todos eles nos foram concedidos por mercê e graça do Espírito Santo.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IX, §7).

2. Operações em particular:

Vivificação espiritual, distribuição de dons        “Há, porém, várias operações do Espírito Santo. Sem realçar aqui a criação do mundo, a propagação e a direção dos seres criados - assunto que já foi tratado no Artigo primeiro - acabamos de ver, há pouco, que ao Espírito Santo se atribui de modo peculiar a vivificação, conforme o atesta o vidente Ezequiel: “Dar-vos-ei o Espírito, e vós vivereis” (Ez 37,6).

Ora, os efeitos principais e mais próprios do Espírito Santo, o Profeta [Isaías] os enumera: “O Espírito de sabedoria e inteligência, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de ciência e de piedade, e o Espírito do temor de Deus” (Is 11,2-3; São Paulo fala do frutos do Espírito Santo em Gl 6,2).

Corolário:

Advertência de Santo Agostinho        Estes efeitos se chamam dons do Espírito Santo, e por vezes levam até o nome de Espírito Santo. Por conseguinte, quando ocorre nas Escrituras o nome de “Espírito Santo”, é com muita prudência que Santo Agostinho nos manda averiguar, se designa a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, ou apenas Seus dons e operações. Estes dois sentidos diferem tanto entre si, quanto cremos que o Criador difere das coisas criadas.

São estes os pontos que exigem maior cuidado na explicação, pois que pelos dons do Espírito Santo chegamos a conhecer as normas da vida cristã, e por eles podemos verificar se em nós habita o [próprio] Espírito Santo.

Infusão da graça santificante        Entre todos os mais dons de Sua liberalidade, devemos enaltecer a graça de justificação, porquanto nos assinala com o “prometido Espírito Santo, que é o penhor de nossa herança” (Ef 1,13-14).

Esta é a graça que, num elo íntimo de amor, une nossa alma a Deus. Tem por efeito que, movidos por intenso ardor de piedade, começamos vida nova; e que, “participando da natureza divina” (2 Pd 1,4), “recebemos o nome de filhos de Deus, e o somos na realidade” (1 Jo 3,1).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IX, §8).


137) Quando o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos?
O Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos no dia de Pentecostes, isto é, cinquenta dias depois da Ressurreição de Jesus Cristo, e dez dias depois da sua Ascensão.

138) Onde ficaram os Apóstolos nos dez dias antes da festa de Pentecostes?
Os Apóstolos ficaram reunidos no Cenáculo em companhia da Virgem Maria e dos outros discípulos, e perseveravam na oração esperando o Espírito Santo que Jesus lhes havia prometido.
 
139) Quais foram os efeitos que o Espírito Santo produziu nos Apóstolos?
O Espírito Santo confirmou na fé os Apóstolos, encheu-os de luzes, de forças, de caridade e da abundância de todos os seus dons.

140) Foi enviado o Espírito Santo só aos Apóstolos?
O Espírito Santo foi enviado a toda a Igreja e a todas as almas fiéis.

141) Que opera o Espírito Santo na Igreja?
O Espírito Santo, como a alma no corpo, vivifica a Igreja com a sua graça e com os seus dons; estabelece nEla o reino da verdade e do amor; e assiste-Lhe a fim de que oriente os seus filhos com firmeza no caminho do Céu.


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Do sétimo artigo do “Credo”: de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos


“Quando o Filho do homem vier em sua glória com todos os seus anjos, então se assentará no seu trono glorioso. Em sua presença, todas as nações se reunirão e ele vai separar uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos, à esquerda. E o rei dirá aos que estiverem à sua direita: Vinde, abençoados por meu Pai! Tomai posse do Reino preparado para vós desde a criação do mundo. Porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, fui peregrino e me acolhestes e, estive nu e me vestistes, enfermo e me visitastes, estava na cadeia e viestes ver-me. E os justos perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te alimentamos, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? Quando foi que te vimos enfermo ou na cadeia e te fomos visitar? E o rei dirá: Eu vos garanto: todas as vezes que fizestes isso a um desses meus irmãos menores, a mim o fizestes.

Depois dirá aos da esquerda: Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque eu tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, fui peregrino e não me destes abrigo; estive nu e não me vestistes, enfermo e na cadeia e não me visitastes. E eles perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos faminto ou sedento, peregrino ou enfermo ou na cadeia e não te servimos? E ele lhes responderá: Eu vos garanto: quando deixastes de fazer isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes. E estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos, para a vida eterna.”


Mt 25, 31-46

124) Que nos ensina o sétimo artigo do Credo: de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos?
O sétimo artigo do Credo ensina-nos que no fim do mundo Jesus Cristo cheio de glória e de majestade, há de vir do Céu para julgar todos os homens, bons e maus, e para dar a cada um o prêmio ou o castigo que tiver merecido.

“Jesus Cristo honra e engrandece a Sua Igreja com três importantes Ministérios: de Redentor, de Protetor, e de Juiz.

Pelos Artigos anteriores, já sabemos que Ele remiu o gênero humano pela Sua Paixão e Morte, e que pela Ascensão se tornou o perpétuo advogado e defensor de nossa causa. No presente Artigo, só resta explicar a Sua função de juiz. O Artigo quer dizer que Cristo Nosso Senhor, naquele dia supremo, há de julgar todo o gênero humano.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VIII, §1).

“As Sagradas Escrituras atestam que são duas as vindas do Filho de Deus. A primeira foi quando assumiu carne, para nos salvar, e Se fez homem no seio da Virgem; a segunda será, quando vier para julgar todos os homens, na consumação dos séculos.

Nas Escrituras, esta segunda vinda se chama “Dia do Senhor” (1Pd 3,10; Ap 3,26), do qual diz o Apóstolo: “O dia do Senhor há de vir como o ladrão de noite” (1Ts 5,2). “Aquele dia, porém, e aquela hora, ninguém os conhece” - declara o próprio Salvador (Mt 24,36).

Em prova do Juízo Final, basta citar esta passagem do Apóstolo: “Todos nós teremos de comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba retribuição do bem ou do mal, que tiver praticado em sua vida terrena” (2Cor 5,10; Rm 14,10).

Se desde o inicio do mundo, todos ansiavam por aquele primeiro dia em que o Senhor Se revestiu de nossa carne, porquanto nesse mistério havia a esperança de seu resgate, também agora devemos - depois da Morte e Ascensão do Filho de Deus – suspirar ardentemente pelo segundo Dia do Senhor, “aguardando a ditosa esperança e o aparecimento da glória do grande Deus” (Tt 2,13).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VIII, §2).


125) Se cada um, logo depois da morte há de ser julgado por Jesus Cristo no juízo particular, por que havemos de ser julgados todos no Juízo universal?
Havemos de ser julgados todos no Juízo universal por várias razões:
1) para glória de Deus;
2) para glória de Jesus Cristo;
3) para glória dos Santos;
4) para confusão dos maus;
5) finalmente para que o corpo, depois da ressurreição universal, tenha juntamente com a alma a sua sentença de prêmio ou de castigo.


“Na explicação desta matéria, os párocos terão de atender às duas ocasiões, em que todo homem deve comparecer na presença do Senhor, para dar contas de todos os seus pensamentos, ações e palavras, e para aceitar finalmente a sentença imediata do Juiz (Hb 9,27).

A primeira ocasião é o momento, em que cada um de nós deixa este mundo; a alma é levada incontinente ao tribunal de Deus, onde se examina com a máxima justeza, tudo o que o homem jamais fez, disse, e pensou em sua vida.

É o que chamamos Juízo Particular.

A segunda ocasião, porém, há de ser quando todos os homens terão de comparecer juntos, no mesmo dia e no mesmo lugar, perante o tribunal do juiz, para que, na presença de todos os homens de todos os séculos, cada um venha a saber a sentença, que a seu respeito foi lavrada.

Para os ímpios e malvados, esta declaração de sentença não constituirá a menor parte de suas penas e castigos; ao passo que os virtuosos e justos nela terão uma boa parte de sua alegria e galardão. Naquele instante, será pois revelado o que foi cada indivíduo, durante a sua vida mortal.

Este Juízo se chama universal.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VIII, §3).


126) Como é que no Juízo universal há de manifestar-se a glória de Deus?
No Juízo universal há de manifestar-se a de Deus, porque todos hão de reconhecer a justiça com que Deus governa o mundo, embora se vejam às vezes os bons a sofrer e os maus em prosperidade.

127) Como é que no Juízo universal há de manifestar-se glória de Jesus Cristo?
No Juízo universal há de manifestar-se a glória de Jesus Cristo, porque, tendo Ele sido injustamente condenado pelos homens, aparecerá então à face do mundo inteiro como Juiz supremo de todos.

128) Como é que no Juízo universal há de manifestar-se a glória dos Santos?
No Juízo universal há de manifestar-se a glória dos Santos, porque muitos deles, que morreram desprezados pelos maus, hão de ser glorificados em presença de todos os homens.

129) No Juízo universal qual será a confusão dos maus?
No Juízo universal a confusão dos maus será enorme, especialmente a daqueles que oprimiram os justos, e ti daqueles que, durante a vida, procuraram ser tidos, falsamente, por homens virtuosos e bons, pois verão manifestados, à vista de todo o inundo, os pecados que cometeram ainda os mais ocultos.


Motivos para o Juízo Universal

a) abrir todas as consciências:     “Será então necessário mostrar por que, além do Juízo Particular para cada um, se fará ainda outro geral para todos os homens.

Ora, os mortos deixam às vezes filhos que imitam os pais; parentes e discípulos que seguem e propagam seus exemplos em palavras e obras. Esta circunstância deve aumentar os prêmios ou castigos dos próprios mortos.
Tal influência, que a muitos empolga, em seu caráter benéfico ou maligno, não acabará senão quando romper o último dia do mundo. Convinha, pois, fazer-se então uma perfeita averiguação de todas essas obras e palavras, quer sejam boas, quer sejam más (para que cada qual veja o alcance de suas responsabilidades sociais). O que, porém, não seria possível sem um julgamento geral de todos os homens.

b) reabilitar os justos:     Outro motivo ainda. Muitas vezes, os justos são lesados em sua reputação, porquanto os ímpios passam por grandes virtuosos. Pede a divina justiça que, numa convocação para o público julgamento de todos os homens, possam os justos recuperar a boa fama, que lhes fora iniquamente roubada aos olhos do mundo.

c) responsabilizar também o corpo:      Além disso, em tudo o que façam durante a vida, os bons e os maus não prescindem da cooperação de seus corpos. Daí decorre, necessariamente, que as boas ou más ações [praticadas] devem atribuir-se também aos corpos, que delas foram instrumentos.
Era, pois, de suma conveniência que os corpos partilhassem, com as almas, dos prêmios da eterna glória ou dos suplícios, conforme houvessem merecido. Isto, porém, não poderia efetuar-se, sem a ressurreição de todos os homens, e sem um julgamento universal.

d) justificar a Providência de Deus:     Como também a fortuna e a desgraça não fazem escolha entre bons e maus, era necessário provar que tudo é dirigido e governado pela infinita sabedoria e justiça de Deus. Convinha, pois, não só reservar prêmios aos bons e castigos aos maus, na vida futura, mas também decretá-los num juízo público e universal, que os tornasse mais claros e evidentes a todos os homens.

Desta forma, todos renderão louvor a Deus pela sua justiça e providência, em desagravo daquela injusta queixa com que às vezes os próprios Santos, por fraqueza humana, se lastimavam, ao verem os maus na posse de grandes cabedais e dignidades.

O Profeta dizia: “Meus pés estiveram a ponto de vacilar. Por pouco se não transviaram os meus passos, porque me enchi de zelo contra os maus, quando observava a vida bonançosa dos pecadores” (Sl 72,2-3). E mais adiante: “Eis que, sendo pecadores, e favorecidos pelo mundo, eles conseguiram riquezas. E eu disse: Então não me adiantou guardar puro o meu coração, e lavar em inocência as minhas mãos; em ser torturado o dia inteiro, e padecer aflição desde o romper da madrugada” (Sl 72,12-14).

Por conseguinte, era preciso haver um Juízo Universal, a fim de que os homens se não pusessem a comentar que Deus passeia pelos quadrantes do céu, e que pouco se Lhe dá a sorte das coisas terrenas (Jó 22,14). Com toda a razão foi incluída a fórmula desta verdade nos doze Artigos do Credo, para apoiar, com a força de sua doutrina, os ânimos que duvidem da providência e justiça de Deus.

e) alentar os bons e aterrar os maus:     Sobretudo, era mister que a lembrança do Juízo alentasse os bons, e aterrasse os maus. Conhecendo a justiça de Deus, aqueles não viriam a desfalecer; estes seriam arredados do mal, graças ao temor e à expectação dos eternos castigos.

Por isso, falando do Último Dia, Nosso Senhor e Salvador declarou que haveria um Juízo Universal. Descreveu os sinais do tempo em que há de chegar, para que, ao vê-los, reconhecêssemos estar perto o fim do mundo. Depois, no momento de subir aos céus, enviou Anjos que consolassem os Apóstolos, tristes com Sua ausência, [e lhes dissessem] as seguintes palavras: “Este Jesus que de vosso meio foi arrebatado ao céu, há de vir assim como O vistes subir ao céu” (At 1,11).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VIII, §4).

O Juiz: “Ensinam as Sagradas Escrituras, que a Cristo Nosso Senhor foi entregue o julgamento, não só enquanto Deus, mas também enquanto Homem. Ainda que o poder de julgar é comum a todas as Pessoas da Santíssima Trindade, contudo o atribuímos ao Filho de modo particular, por dizermos que Lhe compete também a sabedoria. Uma declaração do Senhor confirma que Ele, enquanto Homem, há de julgar o mundo: “Assim como o Pai tem a vida em Si mesmo, assim concedeu também ao Filho ter a vida em Si mesmo; conferiu-Lhe o poder de julgar, porque é o Filho do Homem” (Jo 5,26ss).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VIII, §5).

Porque será Cristo?:  “Fica multo bem que esse Juízo seja efetuado por Cristo Nosso Senhor. Já que os julgados são homens, ser-lhes-á possível ver o juiz com os olhos corporais, e com os próprios ouvidos escutar a sentença que lhes for lavrada, e pelos sentidos chegar ao perfeito conhecimento da ação judicial.

De mais a mais, era de suma justiça que aquele Homem, que fora condenado pela mais iníqua das sentenças humanas, tomasse assento à vista de todos, para julgar todos os homens. Por isso é que, depois de expor, em casa de Cornélia, os pontos capitais da religião cristã; depois de ensinar que Cristo fora crucificado e morto pelos judeus, mas que ao terceiro dia havia ressurgido: - o Príncipe dos Apóstolos não deixou de acrescentar: “E deu-nos ordem de pregar ao povo, e testemunhar que Ele foi por Deus instituído Juiz dos vivos e dos mortos” (At 10,42).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VIII, §6).

Sinais que precedem ao Juízo

Como sinais que precedem o Juízo, as Sagradas Escrituras enumeram três principais: a pregação do Evangelho pelo mundo inteiro, a apostasia, o anticristo.

Com efeito, assim falou Nosso Senhor: “Será pregado este Evangelho do Reino por todo o mundo, para servir de testemunho a todos os povos, e depois há de vir a consumação” (Mt 24,14). E o Apóstolo nos adverte que ninguém se iluda, “como se o Dia do Senhor esteja vizinho” (1Ts 2,2); porquanto não se fará o Juízo, “sem que venha antes a apostasia, e tenha aparecido o homem do pecado” (2Ts 2,3).

O Julgamento

a) a sentença dos bons        As circunstâncias do Juízo, os párocos poderão vê-las comodamente nas profecias de Daniel (Dn 7,9), na doutrina dos Santos Evangelhos (Mt 24,1ss; 25,1ss; Mc 13,26) e do Apóstolo São Paulo (1Cor 15,52; 1Ts 2,1-11; 4,12-16; 5,1-11).

Neste lugar, o que merece maior atenção é a sentença que pelo juiz será pronunciada (Mt 25,34).

Cristo Nosso Senhor lançará um olhar de jubilosa complacência para as justas colocados à direita, e com extremos de bondade lhes dirá a seguinte sentença: “Vinde, benditos de Meu Pai, tomai posse do Reino, que vos está preparado desde o princípio do mundo” (Mt 25,34).

Não se poderá ouvir palavra mais suave do que esta! Assim há de averiguá-lo quem a cotejar com a condenação dos maus; quem levar em conta que tal sentença chama os homens bons e justos, da labuta ao descanso, deste vale de lágrimas aos cimos da alegria, das tribulações à eterna bem aventurança, que eles mereceram por suas obras de caridade.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VIII, §7).

b) sentença dos maus        Volvendo-se, então, para aqueles que estarão à esquerda, lançará sobre eles o rigor de Sua justiça, usando das palavras: “Apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno que foi preparado ao demônio e seus anjos” (Mt 25,41).

As primeiras palavras – “apartai-vos de mim” – exprimem a maior das penas que atingirá os maus, quando forem lançados o mais longe possível da presença de Deus, sem que os possa consolar a esperança de virem jamais a gozar de um bem tão perfeito.

... a pena de dano        Esta é a pena que os teólogos chamam “pena de dano”, porque os réprobos no inferno ficarão para sempre privados da luminosa visão de Deus.

O acréscimo “malditos” agrava-lhes a miséria e desgraça, de uma maneira pavorosa. Se, na verdade, ao serem escorraçados da presença de Deus, fossem pelo menos julgados dignos de alguma bênção, não há dúvida que nisso poderiam ter grande consolação. Mas, como não lhes é dado esperar consolo semelhante para mitigar sua desgraça, de pleno direito a justiça divina os perseguirá, com todas as maldições, a partir do momento em que são [inteiramente] repudiados.

a pena dos sentidos        Seguem-se então as palavras: “para o fogo eterno”. A esta segunda espécie de tormentos chamam os teólogos “pena dos sentidos”, porque empolga os sentidos do corpo, como acontece nos açoites, flagelações, e outros gêneros de suplícios mais pesados.

Não é para duvidar que, entre eles, a tortura do fogo causa a mais intensa sensação de dor. Como tal suplício deve durar para todo o sempre, temos nessa circunstância uma prova de que o castigo dos réprobos concentra em si todos os suplícios possíveis.

Mostram-no, com maior clareza, as últimas palavras da condenação: “que foi preparado para o demônio e seus anjos”. Por índole nossa, não sentimos tanto os sofrimentos, quando temos algum parceiro a repartir conosco o infortúnio, e que até certo ponto nos assiste e conforta, com sua prudência e bondade. Qual não será, porém, a miséria dos condenados, uma vez que em tantas aflições não poderão jamais apartar-se da companhia dos mais perversos demônios?

Muito justa será, naturalmente, a condenação que Nosso Senhor e Salvador há de proferir contra os maus; porque eles vilipendiaram todas as obras de verdadeira piedade. Não deram de comer, nem de beber ao faminto e ao sequioso; não agasalharam o peregrino; não cobriram o desnu; não visitaram o preso, nem o enfermo.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VIII, §8).



domingo, 1 de novembro de 2015

Do sexto artigo do “Credo”: subiu ao Céu, está sentado à direita de Deus Padre todo-poderoso



“Os que prenderam Jesus levaram-no a Caifás, o Sumo Sacerdote, onde os escribas e anciãos se haviam reunido. Pedro o seguiu de longe até o pátio do Sumo Sacerdote. Entrou ali e sentou-se junto com os guardas para ver como ia terminar. Os sumos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam falsos testemunhos contra Jesus para condená-lo à morte. Mas não os encontraram, embora muitas testemunhas falsas se tivessem apresentado.
Finalmente apresentaram-se duas testemunhas que disseram: Este homem falou: Posso destruir o Santuário de Deus e em três dias reconstruí-lo. Então o Sumo Sacerdote levantou-se e perguntou: Nada respondes ao que estes depõem contra ti? Jesus, porém, permanecia calado.
O Sumo Sacerdote lhe disse: Conjuro-te pelo Deus vivo: dize-nos se tu és o Cristo, o Filho de Deus. Jesus respondeu-lhe: Tu o disseste. Entretanto eu vos digo: Um dia vereis o Filho do homem sentado à direita do Todo-poderoso, vindo sobre as nuvens do céu. Então o Sumo Sacerdote rasgou as vestes e disse: Blasfemou! Que necessidade temos de mais testemunhas?
Acabais de ouvir a blasfêmia. O que vos parece? Eles responderam: É réu de morte. Então começaram a cuspir-lhe no rosto e a dar-lhe bofetadas, e outros a ferir-lhe o rosto; e diziam: Adivinha, ó Cristo, quem foi que te bateu?”

Mt 7, 57-68


119) Que nos ensina o sexto artigo do Credo: subiu ao Céu, está sentado à direita de Deus Padre todo-poderoso?
O sexto artigo do Credo ensina-nos que Jesus quarenta dias depois da sua ressurreição na presença dos seus discípulos, subiu por Si mesmo ao Céu e que sendo, enquanto Deus, igual ao Padre Eterno na Glória, enquanto homem, foi elevado acima de todos os Anjos e de todos os Santos, e constituído Senhor de todas as coisas.


“Ao contemplar, cheio do Espírito de Deus, a bem-aventurada Ascensão de Nosso Senhor, o profeta David exorta o mundo Inteiro a celebrar o Seu triunfo, em transportes de alegria e satisfação. “Nações todas, diz ele, batei palmas, louvai a Deus em cantos de alegria! Subiu Deus no meio de aclamações” (Sl 14,35).

A explicação do sexto Artigo, cujo objeto versa principalmente este divino Mistério, deve pois começar pela primeira parte, e descortinar toda a sua significação.

Os fiéis devem crer, sem a menor dúvida, que Jesus Cristo, depois de consumar o mistério de nossa Redenção, subiu aos céus enquanto Homem, com corpo e alma; enquanto Deus, nunca de lá se ausentou, pois que enche todos os lugares com Sua Divindade.

Ensinará, todavia, que subiu por virtude própria. Não foi arrebatado por uma força estranha, como Elias que fora levado ao céu num carro de fogo (2 Rs 2,11-12), nem como Habacuc (Dn 14,35) ou o diácono Filipe (At 8,39) que, transportados através dos ares por uma virtude divina, venceram as distancias de terras longínquas.

Entretanto, não subiu aos céus só pela virtude de Sua onipotência, mas também em Sua condição de homem. Isto não podia acontecer por força da natureza; mas, pela virtude de que estava munida, podia a gloriosa Alma de Cristo mover o corpo a seu grado. Tendo já a posse da glória, o corpo obedecia, sem dificuldade, à direção que a alma lhe dava, em seus movimentos. Desta maneira é que acreditamos ter Cristo subido aos céus, por virtude própria, como Deus e como Homem.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VII, §1-2)


120) Por que Jesus Cristo, depois da sua ressurreição, esteve quarenta dias na terra, antes de subir ao Céu?
Jesus Cristo, depois da sua ressurreição, esteve quarenta dias na terra, antes de subir ao Céu, para provar, com várias aparições, que ressuscitara verdadeiramente, e para instruir melhor os Apóstolos e confirmá-los nas verdades da fé.

121) Por que Jesus Cristo subiu ao Céu?
Jesus Cristo subiu ao Céu:
1) para tomar posse do seu reino, que havia merecido com sua morte;
2) para preparar o nosso lugar na glória, e para ser nosso Mediador e Advogado junto do Padre Eterno;
3) para enviar o Espírito Santo aos seus Apóstolos.


“Depois desta exposição, é preciso ainda explicar bem as razões por que Cristo subiu aos céus. Antes de tudo, subiu aos céus, porque a Seu Corpo, dotado de glória imortal desde a Ressurreição, já não lhe convinha esta obscura morada da terra, mas antes a elevada e esplendorosa mansão dos céus.

E não foi só para tomar posse do trono de glória e poder, merecido pelo [Seu próprio] Sangue; mas também para diligenciar tudo o que diz respeito à nossa salvação.

Além disso, foi para provar realmente que “Seu Reino não é deste mundo” (Jo 18,36). Os reinos do mundo são terrenos e passageiros, apóiam-se em grandes cabedais e na força proveniente da carne. Ora, o Reino de Cristo não era terrestre, como os judeus esperavam, mas espiritual e eterno. Colocando Seu trono nos céus, o próprio Cristo demonstrou que as forças e riquezas de Seu reino eram de natureza espiritual.

Neste Reino, os mais ricos e os mais providos com a abundância de todos os bens são aqueles que [na terra] procuram com maior ardor as coisas de Deus. Santiago, com efeito, declara que Deus escolheu “os pobres neste mundo, para serem ricos na fé, e herdeiros do Reino que Deus prometeu àqueles que O amam.

Pela Ascensão, Nosso Senhor queria pensamento que, subindo Ele aos céus, continuássemos nós a segui-l’O com saudosos pensamentos. Com efeito, pela Sua Morte e Ressurreição, deixou-nos um exemplo que nos mostra como devemos morrer e ressurgir espiritualmente. Pela Sua Ascensão também nos ensina e educa a erguermos nossa mente ao céu, enquanto vivemos ainda aqui na terra; a reconhecermos que, na terra, somos hóspedes e peregrinos à procura da [verdadeira] pátria (Hb 11,13), concidadãos dos Santos e membros da família de Deus (Ef 2,19), pois como diz o mesmo Apóstolo: “Nosso viver é no céu” (Fl 3,20).

A eficácia e a grandeza dos inefáveis benefícios que a bondade de Deus derramou sobre nós [por meio deste Mistério], desde muito as havia vaticinado o santo profeta David: “Subindo ao alto, arrebatou consigo os escravos, e distribuiu Seus dons aos homens” (Sl 67,19). Neste sentido é que o Apóstolo interpreta esta passagem (cf. Ef 4,8).

Efetivamente, ao cabo de dez dias, enviou [Cristo] o Espírito Santo, de cuja virtude e exuberância encheu a multidão de fiéis ali presentes. Então é que cumpriu verdadeiramente aquela grandiosa promessa: “Para vós convém que Eu me vá. Se Eu não for, não virá a vós o Consolador; mas, se for, Eu vo-l’O enviarei” (Jo 16,7; At 1,4-5).

Pela doutrina do Apóstolo, [Cristo] também subiu aos céus “para Se apresentar agora ante a face de Deus em favor nosso” (Hb 9,24), e exercer perante o Pai o ofício de advogado. “Filhinhos meus, diz São João, eu vos escrevo para que não venhais a pecar. No entanto, se alguém pecar, por advogado junto ao Pai temos a Jesus Cristo, o Justo. Ele próprio é propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 2,1ss).

Nada pode inspirar aos fiéis maior alegria e felicidade, do que verem a Jesus Cristo feito patrono de nossa causa, e intercessor pela nossa salvação, Ele que goza junto ao Eterno Pai de suma influência e autoridade.

Afinal, preparou-nos um lugar, conforme o havia prometido (Jo 14,2). Foi em nome de todos nós que Jesus Cristo, como nosso Chefe, entrou na posse da glória celeste.

Com Sua ida para o céu, abriu as portas que se tinham fechado, em conseqüência do pecado de Adão. Franqueou-nos um caminho para chegarmos à celestial bem-aventurança, conforme predissera aos Discípulos na última Ceia. Para confirmar Sua promessa com a realidade dos fatos, levou consigo, para a mansão da eterna bem-aventurança, as almas dos justos que tinha arrancado dos infernos.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VII, §5-6)


122) Por que se diz de Jesus Cristo que subiu ao Céu, e de sua Mãe Santíssima se diz que foi levada para o Céu?
Diz-se de Jesus Cristo que subiu, e de sua Mãe Santíssima que foi levada ao Céu, porque Jesus Cristo, sendo Homem-Deus, subiu ao Céu por virtude própria; mas sua Mãe, que era criatura, embora a mais digna de todas, foi levada ao Céu por virtude de Deus.

123) Explicai as palavras: Está sentado à direita de Deus Padre todo-poderoso.
As palavras “está sentado” significam a posse pacífica que Jesus Cristo tem da sua glória, as palavras à direita de Deus Padre todo-poderoso exprimem que Ele, tem o lugar de honra sobre todas as criaturas.


“Na segunda parte do Artigo estão as palavras: “Está sentado à direita de [Deus] Padre”. Esta expressão encerra uma figura de linguagem, muito usada nas Escrituras. Para maior facilidade de compreensão, atribuímos a Deus afetos e membros humanos, apesar de não podermos imaginar nada de corpóreo em Deus, porque é [puro] espírito.

Mas, como nas relações sociais julgamos dar maior honra a quem colocamos a nossa direita, assim aplicamos também o mesmo princípio às coisas do céu. Confessamos que Cristo está à direita do Pai, para exprimir a glória que, como Homem, alcançou acima de todas as criaturas.

O “estar sentado” não exprime aqui uma postura de corpo, mas põe em evidência a posse segura e inabalável do régio poder e da glória infinita, que [Cristo] recebeu de Seu Pai.

Disso fala o Apóstolo: “Ressuscitou-O da morte, e colocou-O à Sua direita no céu, acima de todos os principados e potestades, virtudes e dominações, de todas as dignidades que possa haver não só neste mundo, mas também no mundo futuro. Pôs-Lhe aos pés todas as coisas” (Ef 1,20ss).

Destas palavras inferimos que tal glória é tão própria e particular de Nosso Senhor, que não pode convir a nenhuma outra natureza criada. Eis por que o Apóstolo declara em outro lugar: “A qual dos Anjos disse jamais: Senta-te a minha direita?” (Hb 1,13; Sl 109,1).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VII, §3).

“Desde a eternidade era este o lugar do Filho de Deus. Mas o Filho de Deus se fez homem, por isso Jesus Cristo tem o direito de sentar à direita de Deus, porque Ele tem direito sobre o reino mesmo na Sua qualidade de Homem.” (Enciclopédia Catequética, vol. I, Lição 36).