domingo, 24 de janeiro de 2016

Do nono artigo do “Credo”: creio na Santa Igreja Católica; na Comunhão dos Santos - Parte I






“Então pareceu bem aos Apóstolos e aos presbíteros, com toda a Igreja, eleger algumas pessoas dentre eles, e enviá-las a Antioquia, com Paulo e Barnabé. (Elegeram) Judas, que tinha o sobrenome de Barsabas, e Silas, pessoas eminentes entre os irmãos, mandando por mão deles esta carta:

“Os Apóstolos e os presbíteros irmãos, aos irmãos convertidos dos gentios, que estão em Antioquia, na Síria e na Cilícia, saúde. Tendo nós sabido que alguns, indo do meio de nós, sem nenhuma ordem da nossa parte, vos perturbaram com discursos que agitaram as vossas almas, aprouve-nos, depois de nos termos reunido, escolher alguns homens, e enviá-los a vós com os nossos muito amados Barnabé e Paulo, homens que têm exposto as suas vidas pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. Enviamos portanto Judas e Silas, que vos exporão as mesmas coisas e de viva voz. Com efeito, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor mais encargos além destes indispensáveis:Que vos abstenhais das coisas imoladas aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas e da fornicação, das quais coisas fareis bem em vos guardar. Adeus.”

Atos 15, 22-29



§ 1º - Da Igreja em geral

142) Que nos ensina o nono artigo do Credo: creio na Santa Igreja Católica; na Comunhão dos Santos?
O nono artigo do Credo ensina-nos que Jesus Cristo fundou sobre a terra uma sociedade visível, a qual se chama Igreja Católica, e que todas as pessoas que fazem parte desta Igreja estão em comunhão entre si.


“Duas considerações nas mostram, principalmente, com quanta atenção devem os pastores explicar aos fiéis as verdades deste nono Artigo.

A primeira é a seguinte: Na opinião de Santo Agostinho,os Profetas insistiam mais em falar da Igreja que do [próprio] Cristo. Previam que muito maior podia Ser o número de pessoas a errarem e iludirem-se neste ponto, do que a respeito do mistério da Encarnação.

Realmente, à guisa do mono que se figura homem, não deixaria de haver ímpios com a pretensão de que só eles são católicos, e com a maldosa e soberba afirmação de que só entre eles existe a [verdadeira] Igreja Católica.

A segunda consideração é que facilmente escapa ao tremendo perigo de heresia, quem assimila esta verdade, com plena convicção. Com efeito, a pessoa não se torna herege só por pecar contra a fé, mas antes por menosprezar a autoridade da Igreja, e defender obstinadamente suas ímpias afirmações.

Por conseguinte, não é possível que alguém contraia a peste da heresia, enquanto aceita o que este Artigo [lhe] propõe a crer. Os pastores, devem, pois, empenhar-se por que os fiéis conheçam [a fundo] este Mistério, e possam assim perseverar na verdade da fé, e defender-se contra as astúcias do inimigo.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. X, §1).


143) Por que, depois do artigo que trata do Espírito Santo, fala-se imediatamente da Igreja Católica?
Depois do artigo que trata do Espírito Santo, fala-se imediatamente da Igreja Católica, para indicar que toda a santidade da mesma Igreja procede do Espírito Santo, que é o autor de toda a santidade.


“Entre este Artigo e o anterior existe uma correlação. Já foi demonstrado que o Espírito Santo é fonte e causa de toda santidade. Ora, no Artigo atual, confessamos que do mesmo Espírito Santo se deriva a santidade de que a Igreja foi dotada.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. X, §1).


144) Que quer dizer esta palavra Igreja?
A palavra Igreja quer dizer convocação ou reunião de muitas pessoas.

145) Quem nos convocou ou chamou para a Igreja de Jesus Cristo?
Nós fomos chamados para a Igreja de Jesus Cristo por uma graça particular de Deus, a fim de que, com a luz da fé e pela observância da lei divina, Lhe prestemos o culto devido, e cheguemos à vida eterna.


Designações de “Ecclesia”:

a) assembléia        “Agora é preciso dar a significação do termo “Igreja”. Os latinos tomaram-na dos gregos, e [só] depois da divulgação do Evangelho é que entrou no vocabulário [especificamente] religioso.

Igreja quer dizer “convocação”. Mais tarde, porém, os escritores empregavam o termo no sentido de “assembleia” e “comício”. Não vem ao caso distinguir aqui se o povo [reunido] adorava ao Deus verdadeiro, ou se abraçava alguma falsa religião. Com referência ao povo de Éfeso, está escrito nos Atos dos Apóstolos que, depois de apaziguar as turbas, o escriba lhes dissera: “Se tendes mais algum agravo, poderá isto resolver-se em legítima assembléia do povo” (At 19,39; Em latim: in legitima ecclesia). Chama, pois, de “assembléia legítima” ao povo de Éfeso, que se consagrava ao culto de Diana.

Dava-se, às vezes, o nome de “assembléia” (ecclesia) não só às nações que não conheciam a Deus, mas até aos ajuntamentos de homens maus e ímpios. “Detesto a assembléia dos maus, diz o Profeta, e com os ímpios não andarei” (Sl 25,5; ecclesiam malignatium).

b) comunidade cristã...        Depois, pelo uso comum da Sagrada Escritura, passou o termo a designar unicamente a comunidade cristã, as reuniões dos fiéis, isto é, daqueles que pela fé foram “convocados” à luz da verdade e ao conhecimento de Deus, que renunciaram [enfim] às trevas da ignorância e do erro, para adorarem pia e santamente o Deus vivo e verdadeiro, e servi-l'O de todo o coração.

Resumindo tudo numa só palavra: “A Igreja, como diz Santo Agostinho, é o povo fiel disseminado pelo mundo inteiro”.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. X, §2).

“como convocação”...        “Não são de pouca monta os mistérios encerrados nesta palavra. Já na idéia de convocação", como significado de Igreja, fulgura a bondade e o resplendor da graça divina, e nisso reconhecemos que a Igreja difere, radicalmente, de todas as outras instituições de direito público.

Estas se baseiam na razão e prudência humana; aquela, porém, foi organizada pela sabedoria e providencia divina. Deus nos “convocou”, interiormente, pela inspiração do Espírito Santo; exteriormente, por obra e empenho dos pastores e pregadores.

Para conhecimento e posse das coisas eternas        Para nós, o fim desta “convocação” não pode ser outro senão o conhecimento e a posse das coisas eternas.

Disso ficaremos plenamente convencidos, se atendermos ao motivo por que o povo fiel, sujeito à lei de Moisés, tinha outrora o nome de “sinagoga”, isto é, aglomeração. No sentir de Santo Agostinho, foi-lhe dado este nome, porque só se concentravam nos bens terrenos e passageiros, à maneira dos animais,cujo instinto é viver em rebanho. Com muito acerto, o povo cristão não se chama sinagoga, mas “igreja” (ecclesia), porque despreza as coisas terrenas e só procura as celestiais e eternas.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. X, §3).

Outras designações:

a) casa de Deus        Há outros nomes ainda, cheios de mistérios, que servem para designara instituição cristã. O Apóstolo chama-lhe casa e edifício de Deus. “Se eu tardar, escreve a Timóteo, saberá como deves proceder na casa de Deus, pois é a Igreja de Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3,15). A Igreja chama-se “casa”, porque constitui por assim dizer uma única família governada por um só pai de família, e na qual existe comunhão de todos os bens espirituais.

b) rebanho de Cristo
c) esposa de Cristo        Chama-se também “rebanho das ovelhas de Cristo” (Jo 10,1ss; Ez 34,11-31; Sl 94,7), das quais Ele é “porta e pastor” (Jo 10,7-11).

Dá-se-1he o nome de “Esposa de Cristo”: “Prometi apresentar-vos, como Virgem pura, ao único Esposo Jesus Cristo” (2 Cor 11,2). Assim escreve o Apóstolo aos Coríntios. O mesmo disse aos Efésios: “Maridos, amai vossas esposas, como Cristo amou a Igreja” (Ef 5, 25). A respeito do Matrimônio declarou: “Este Mistério é grande, mas eu o digo em sua relação com Cristo e a Igreja” (Ef 5,32).

d) corpo de Cristo        Afinal, a Igreja é chamada “Corpo de Cristo”, como se pode averiguar nas epístolas aos Efésios (Ef 1,23) e aos Colossenses (Col 1,18-24; cf. Rm 12,4-5).

Todas estas designações são muito eficazes, para excitar nos fiéis o desejo de se mostrarem dignos da infinita clemência e bondade de Deus, que os escolheu para serem o Seu povo (Lv 26,12; Sl 78,13; Is 62,12; Jr 7,23).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. X, §4).


146) Onde se encontram os membros da Igreja?
Os membros da Igreja encontram-se parte no Céu, e formam a Igreja triunfante;parte no Purgatório, e formam a Igreja padecente; parte na terra, e formam a Igreja militante.

147) Estas diversas partes da Igreja constituem uma só Igreja?
Sim, estas diversas partes da Igreja constituem uma só Igreja e um só corpo,porque têm a mesma cabeça que é Jesus Cristo, o mesmo espírito que as anima e as une, e o mesmo fim que é a felicidade eterna, que uns já estão gozando e que outros esperam.


Partes da Igreja:

“Concluídas estas explicações,será necessário enumerar as partes componentes da Igreja, e mostrar suas diferenças, para que o povo veja melhor a natureza, as propriedades, os dons e as graças desta Igreja tão amada de Deus, e por tal razão não deixe jamais de louvar a santíssima Majestade Divina.

1. Igreja triunfante        Na Igreja, há duas partes principais.Uma se chama triunfante, e outra militante. A Igreja triunfante é a mais luzida e ditosa comunhão dos espíritos bem aventurados e de todos os [homens], que triunfaram do mundo, da carne, e da malícia do demônio, e que, livres e salvos das provações desta vida, já estão no gozo da eterna felicidade.

2. Igreja militante A Igreja militante é o conjunto de todos os fiéis que ainda vivem na terra. Chama-se militante, porque move uma guerra sem tréguas aos mais assanhados inimigos: o mundo, a carne e o demônio (1Jo 2,16; 5,19; Gl 5,17; Tg 4,4).

Nem por isso se deve crer que haja duas Igrejas. Como dizíamos, são duas partes da mesma Igreja. Uma das quais leva a dianteira, e já está na posse da Pátria Celestial; a outra vai avançando, dia por dia, até que por fim se una a Nosso Senhor, para repousar na eterna bem-aventurança.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. X, §5).

(É de praxe distinguirem-se três estados da Igreja: militante, padecente e triunfante. O Catecismo Romano não faz menção da Igreja padecente, mas alude ao purgatório na Primeira Parte, capítulo VI, parágrafos 3 e 6 – onde explica o significado de “infernos” e a finalidade da descida de Nosso Senhor aos “infernos”. As almas benditas pertencem ao corpo místico de Cristo não menos do que os fiéis na terra e os Santos no céu. Em certo sentido, ficam sob a influência da Igreja militante, porquanto esta pode minorar-lhes os sofrimentos pela aplicação de boas obras e indulgências.)


148) A qual das partes da Igreja se refere principalmente este nono artigo?
Este nono artigo do Credo refere-se principalmente à Igreja militante, que é a Igreja na qual estamos atualmente.