sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Do terceiro artigo do “Credo”: o qual foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu de Maria Virgem



“No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado da parte de Deus para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem, prometida em casamento a um homem, chamado José, da casa de Davi. O nome da virgem era Maria. Entrando onde ela estava, o anjo lhe disse: “Deus te salve, cheia de graça, o Senhor está contigo!” Ao ouvir as palavras, ela se perturbou e refletia no que poderia significar a saudação. Mas o anjo lhe falou: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará na casa de Jacó pelos séculos e seu reino não terá fim”.

Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, pois não conheço homem?” Em resposta o anjo lhe disse: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; e por isso mesmo Santo que vai nascer de ti será chamado Filho de Deus. Eis que também Isabel, tua parenta, concebeu um filho em sua velhice, e este é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível”.

Disse então Maria: “Eis aqui a serva do Senhor. Aconteça comigo segundo tua palavra!” E o anjo afastou-se dela.”

Lc 1, 26-33

82) Que nos ensina o terceiro artigo do Credo: o qual foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu de Maria Virgem?
O terceiro artigo do Credo ensinam-nos que o Filho de Deus tomou um corpo e uma alma, como nós temos, no seio puríssimo de Maria Santíssima, pelo poder do Espírito Santo, e que nasceu desta Virgem.


“O sentido desse artigo se resume em crermos e confessarmos que o mesmo Jesus Cristo, nosso único Senhor e Filho de Deus, assumindo carne humana no seio da Virgem pela nossa salvação, não foi concebido de germe masculino, como os outros homens, mas por obra do Espírito Santo (Mt 1,20), acima de todas as leis da natureza, de sorte que a mesma Pessoa permaneceu Deus, qual era desde toda a eternidade, e tornou-se então Homem, o que antes nunca tinha sido (Jo 1,4).

O que prova claramente, ser este - o sentido destas palavras, é a profissão de fé do Sagrado Concílio de Constantinopla: “O qual desceu dos céus, por amor de nós homens, e por causa de nossa salvação; e encarnou de Maria Virgem por obra do Espírito Santo, e se fez homem”.

Assim também o explicou São João Evangelista que, do peito do próprio Senhor e Salvador, havia haurido o conhecimento deste profundo mistério. Depois de ter explicado a natureza do Verbo Divino com as palavras: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1,1); - conclui por fim: “E o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1,14).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IV, §1)


83) Concorreram o Padre e o Filho também para formar o corpo e para criar a alma de Jesus Cristo?
Sim, para formar o corpo e para criar a alma de Jesus Cristo, concorreram todas as três Pessoas divinas.

84) Por que se diz só: foi concebido pelo poder do Espírito Santo?
Diz-se só: foi concebido pelo poder do Espírito Santo, porque a Encarnação do Filho de Deus é obra de bondade e de amor, e as obras de bondade e de amor atribuem-se ao Espírito Santo.


A conceição de Cristo é...: “Quando dizemos que o Filho de Deus foi concebido por obra do Espírito Santo, não afirmamos que esta Pessoa da Santíssima Trindade consumou sozinha o mistério da Encarnação. Ainda que só o Filho assumiu a natureza humana, nem por isso deixaram de ser autoras deste mistério todas as três Pessoas da Santíssima Trindade, o Padre, o Filho e o Espírito Santo.

Obra comum das três Pessoas: Em geral, devemos ter como norma de fé cristã: Tudo o que Deus opera fora de si nas coisas criadas, é obra comum das três Pessoas. Uma não opera mais do que as outras, nem uma sem as outras.

A única coisa que não pode ser comum a todas as Pessoas, o modo de proceder uma da outra. Com efeito, só o Filho é gerado pelo Padre, o Espírito Santo procede do Padre e do Filho.

Tudo, porém, o que operam para fora, é obra comum das três Pessoas, sem diferença alguma. A esta espécie de operação pertence a Encarnação do Filho de Deus.

... mas atribuída ao Espírito Santo em particular: Apesar disso, a Sagrada Escritura costuma, das coisas que são comuns às três Pessoas, atribuir umas a esta Pessoa, outras àquela, como por exemplo ao Padre o supremo poder sobre todas as coisas, ao Filho a sabedoria, e o amor ao Espírito Santo.

Como o mistério da Encarnação de Deus nos revela a singular e imensa benignidade de Deus para conosco, é por esse motivo que, de modo particular, atribuímos essa operação ao Espírito Santo.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IV, §3)


85) Fazendo-se homem, deixou o Filho de ser Deus?
O Filho de Deus, fazendo-se homem, não deixou de ser Deus.

86) Então Jesus Cristo é Deus e homem ao mesmo tempo?
Sim, o Filho de Deus encarnado, isto é, Jesus Cristo, é Deus e homem ao mesmo tempo, perfeito Deus e perfeito homem.

87) Há então em Jesus Cristo duas naturezas?
Sim, em Jesus Cristo, que é Deus e homem, há duas naturezas, a divina e a humana.


Modo de união entre as duas naturezas: “O Verbo, que é uma Pessoa da natureza divina, assumiu de tal forma a natureza humana que uma e a mesma Pessoa é o “suporte” das naturezas divina e humana.

Daí resultou que, nessa admirável união, se conservaram as operações e propriedades de uma e outra natureza. E na frase do célebre Pontífice São Leão Magno, “nem a glória da natureza superior destruiu a inferior, nem a elevação da natureza inferior diminuiu a dignidade da superior” (S. Leão Magno Sermão 21,2).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IV, §2)


88) E haverá também em Jesus Cristo duas pessoas, a divina e a humana?
No Filho de Deus feito homem há só uma Pessoa, que é a divina.

89) Quantas vontades há em Jesus Cristo?
Em Jesus Cristo há duas vontades, uma divina, outra humana.

90) Tinha Jesus Cristo vontade livre?
Sim, Jesus Cristo tinha vontade livre, mas não podia fazer o mal, porque poder fazer o mal é defeito, e não perfeição da liberdade.


Caráter da conceição de Cristo:
a) Aspecto natural: “Verifica-se, neste mistério, que alguns elementos superam a ordem da natureza, e que outros lhe são conformes. Cremos que o Corpo de Cristo se formou do sangue da Virgem Sua Mãe, e nisso reconhecemos uma operação da natureza humana. É lei natural que todo corpo humano se forme do sangue materno.

b) Aspecto sobrenatural: Mas, o que ultrapassa a ordem natural das coisas, e supera a força de nossa inteligência é o fato de que, no instante de consentir a bem aventurada Virgem às palavras do Anjo, declarando: “Eis aqui a escrava do Senhor, cumpra-se em mim a Vossa palavra” (Lc 1,38) - logo começou a formar-se [nela] o santíssimo Corpo de Cristo, ao qual se uniu uma alma dotada de inteligência, de sorte que, no mesmo instante, o Deus perfeito se tornou perfeito homem.

quanto ao corpo - obra do Espírito Santo: Ninguém pode duvidar que esta foi uma nova e admirável obra do Espírito Santo, pois segundo a ordem da natureza a alma humana não pode informar nenhum corpo, senão em certo lapso de tempo.

quanto a divindade - união hipostática: Acresce ainda outro fato, digno de maior admiração. Tanto que a alma se uniu ao corpo, a própria Divindade se uniu também ao corpo e à alma. Por conseguinte, logo que o corpo foi formado, e simultaneamente animado, a Divindade ficou ligada tanto ao corpo como à alma. 

quanto à alma - plenitude de dons e carismas: Mas, como acabamos de dizer, o Corpo de Cristo se formou do puríssimo sangue da Virgem toda Imaculada, sem nenhuma interferência de varão, mas unicamente pela virtude do Espírito Santo.

Assim também a Sua Alma recebeu, desde o primeiro instante da conceição, a mais rica abundância do Espírito Santo e toda a plenitude de [Seus] dons e carismas. Segundo o testemunho de São João Batista, Deus “não Lhe dá o Espírito por medida”, como aos outros homens, aos quais reveste de graça e santidade, mas infundiu-Lhe na alma todas as graças com tanta profusão, que “de Sua plenitude todos nós recebemos”.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IV, §4)


91) Serão uma e a mesma Pessoa o Filho de Deus e o Filho de Maria Santíssima?
O Filho de Deus e o Filho de Maria Santíssima são a mesma Pessoa, isto é, Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

92) E a Virgem Maria, será Mãe de Deus?
Sim, Maria Santíssima é Mãe de Deus, porque é Mãe de Jesus Cristo, que é verdadeiro Deus.

93) De que maneira veio Maria a ser Mãe de Jesus Cristo?
Maria veio a ser Mãe de Jesus Cristo unicamente por virtude do Espírito Santo.

94) É de fé que Maria foi sempre Virgem?
Sim, é de fé que Maria Santíssima foi sempre Virgem, e é chamada a Virgem por excelência.


“Daí se segue que, no mesmo instante, Deus perfeito veio a ser perfeito homem; e que a Santíssima Virgem pode, verdadeira e propriamente, ser chamada Mãe de Deus, porque no mesmo instante concebia a Deus e ao Homem.

É o que também lhe foi significado, quando o Anjo lhe dissera: “Eis que conceberás no teu seio, e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Este será grande, e chamar-Lhe-ão Filho do Altíssimo” (Lc 1,31). E por este fato se realizou a profecia de Isaías: “Eis que uma Virgem conceberá, e dará à luz um Filho” (Is 7,14).

Assim também reconheceu Isabel a conceição do Filho de Deus, quando toda cheia do Espírito Santo prorrompeu nas palavras: “Donde me vem esta graça de chegar a mim a Mãe do meu Senhor?” (Lc 1,43).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IV, §4)


Nasceu de Maria Virgem

1 - Nasceu... Esta é a segunda parte do presente Artigo. O pároco fará todo o empenho de explicá-la acuradamente, porque impõe aos fiéis a obrigação de crerem que Jesus Nosso Senhor não só foi concebido por obra do Espírito Santo, mas também nasceu de Maria Virgem, e por ela foi posto neste mundo.

a) para regozijo nosso... O Anjo foi o primeiro a anunciar ao mundo esta mensagem de felicidade, e suas palavras nos dão a entender, com quanta alegria e elevação de espírito não devemos meditar este mistério da fé: “Eis que venho anunciar-vos uma grande alegria para todo o povo” (Lc 2,10-14). E também os cantares da milícia celeste: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade!” (Lc 2,10-14)

b) segundo as profecias... Desde aquele instante, começou realmente a cumprir-se a grandiosa promessa de Deus a Abraão, quando lhe dissera que, um dia, “todos os povos seriam abençoados em sua descendência” (Gn 22,18). Maria, a quem proclamamos e veneramos como verdadeira Mãe de Deus, - por ter dado à luz aquela Pessoa que era ao mesmo tempo Deus e Homem, - [Maria] descendia da estirpe real de David. (Mt 1,1-17)” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IV, §7)

2 - de Maria Virgem... Se a conceição de Cristo já excede toda a ordem da natureza, em Seu nascimento nada podemos contemplar que não seja de caráter divino.

O que há de mais admirável, o que sobrepuja a tudo quanto o homem possa dizer ou imaginar, é o fato de nascer Ele de Sua Mãe, sem que daí resultasse a menor lesão da virgindade materna.

Assim como mais tarde saiu do sepulcro fechado e selado; assim como “entrou para junto de Seus Discípulos, apesar das portas fechadas” (Jo 20,19); assim como, na observação diária da natureza, vemos os raios solares atravessarem um vidro compacto, sem o quebrar, e sem lhe fazer o menor estrago; - assim também, e de maneira mais sublime, nasceu Jesus Cristo do seio de Sua Mãe, sem nenhum dano para a integridade materna.

É, pois, com os mais justos louvores que, em Maria, enaltecemos uma virgindade perpétua e intemerata. Operado foi este milagre pela virtude do Espírito Santo. De tal modo assistiu a Mãe na conceição e no nascimento do Filho que, dando-lhe fecundidade, lhe conservou todavia a virgindade.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IV, §8)

que é a segunda Eva... De vez em quando, costuma o Apóstolo designar a Cristo como o “segundo Adão” (1Cor 15,21-32; Rm 5,14) "', e confrontá-l'O com o primeiro Adão. Realmente, assim como pelo primeiro Adão todos os homens sofrem a morte, assim pelo segundo são todos novamente chamados à vida. Assim como Adão foi pai do gênero humano segundo as leis da natureza, assim também Cristo é [para todos o autor da graça e bem-aventurança.

Por analogia, podemos igualmente comparar com Eva a Virgem Mãe [de Deus]. A primeira Eva corresponde a segunda, que é Maria; assim como acabamos de mostrar que o segundo Adão - Cristo - corresponde ao primeiro Adão.

Por ter dado crédito à serpente (Gn 3,6; Eclo 25,33), Eva acarretou maldição e morte ao gênero humano. Maria acreditou nas palavras do Anjo (Lc 1,38), e obteve que aos homens viesse [novamente] bênção e vida (Ef 1,3). Por culpa de Eva, nascemos filhos da ira (Ef 2,3); por Maria recebemos Jesus Cristo, que nos faz renascer como filhos da graça (Gl 4,4-7). A Eva foi dito: Em dores darás à luz [teus] fiIhos (Gn 3,16). Maria ficou isenta desta lei. Conservando a integridade de sua virginal pureza, como dizíamos há pouco, Maria deu à luz a Jesus, Filho de Deus, sem sofrer dor de espécie alguma.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IV, §9)


Por aqui encerramos o terceiro artigo do credo. Logo passaremos ao próximo. Salve Maria!