terça-feira, 15 de setembro de 2015

Meditação e Frutos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo


Neste artigo falaremos sobre a Meditação da Paixão de Nosso Senhor, e os Frutos que Ele nos alcançou por ela.


Após a exposição destas verdades [que já vimos aqui], o pároco procurará desenvolver, a propósito da Paixão e Morte de Cristo, algumas reflexões apropriadas, pelas quais os fiéis consigam, senão compreender, ao menos meditar a profundeza de tão grande Mistério.


Para essa meditação da Paixão de Nosso Senhor, o Catecismo indica alguns pontos principais:

1. Quem Sofre?          Em primeiro lugar, devem considerar quem é Aquele que suporta todos esses sofrimentos. Realmente, não temos palavras para explicar Sua dignidade, nem inteligência capaz de compreendê-la.

a) o Herdeiro do Universo          São João diz ser o “Verbo que estava com Deus” (Jo 1,1). O Apóstolo designa-O, em linguagem sublime, como sendo Aquele “a quem Deus constituiu Herdeiro do Universo, e pelo qual criou também os séculos; o qual é o resplendor de Sua glória e a imagem de
Sua essência; O qual sustenta o Universo com o poder de Sua palavra” (Hb 1,2-3). É Aquele que, “depois de dar resgate pelos pecados, está sentado à direita da Majestade nas alturas” (Hb 1,2-3).

b) o Criador e Sustentador do mundo          Para dizer tudo numa só palavra, quem sofre é Jesus Cristo, Deus e Homem ao mesmo tempo. Sofre o Criador pelas suas criaturas. Sofre o Senhor pelos Seus escravos. Sofre Aquele que criou os Anjos, os homens, os céus e os elementos da natureza. Aquele, afinal, “em quem, por quem, e de quem subsistem todas as coisas” (Rm 11,36).

Aplicação          Se Cristo se contorcia, aos golpes de tantos tormentos, que muito se abalasse também toda a máquina do mundo, como diz a Escritura: “A terra tremeu, e partiram-se os rochedos” (Mt 27,51); “toda a terra se cobriu de escuridão, e o sol perdeu sua claridade?” (Lc 23, 44-45). Ora, se até as criaturas mudas e insensíveis prantearam o sofrimento de Seu Criador, reconheçam os fiéis com que lágrimas devem exprimir a sua própria dor, eles que são “pedras vivas deste edifício” (1 Pd 2,5).


2. Por que sofre?

a) pelo pecado original          Em seguida, é preciso também explicar os motivos da Paixão, para que melhor apareça a grandeza e intensidade do amor de Deus para conosco.

Quem quiser saber por que razão o Filho de Deus Se sujeitou ao mais cruel dos sofrimentos, verá que, além da culpa hereditária de nossos primeiros Pais, a causa principal são os vícios e pecados que os homens cometeram, desde a origem do mundo até a presente data, e os que hão de cometer futuramente, até a consumação dos séculos.

b) pelos crimes de todas as gerações          Pela Sua Paixão e Morte, o Filho de Deus e Salvador nosso tinha em mira resgatar e destruir os pecados de todas as gerações, e por eles oferecer ao Eterno Padre uma satisfação completa e exuberante.


3. Quem faz sofrer?

a) Os pecadores comuns          Sobe de ponto a sublimidade de Sua Paixão, não só porque Cristo sofreu pelos pecadores, mas porque os próprios pecadores foram também autores e instrumentos de todas as penas, pelas quais teve de passar.

Lembra-nos o Apóstolo esta circunstância, quando escreve aos Hebreus: “Considerai Aquele que dos pecadores sofreu tanta contradição contra Si mesmo. Assim não desanimareis em vossas fadigas” (Hb 12,3)

b) os consuetudinários          Devem julgar-se responsáveis de tal culpa todos aqueles que continuam a reincidir muitas vezes em pecados. Já que nossos pecados arrastaram Cristo Nosso Senhor ao suplício da Cruz, todos os que chafurdam em vícios e pecados, fazem de sua parte quanto podem, para de novo crucificar “em si mesmos o Filho de Deus, e cobri-l'O de escárnios” (Hb 6,6).

c) os cristãos pecadores          Tal crime assume em nós um caráter mais grave, do que no caso dos Judeus; porquanto estes, no sentir do Apóstolo, “nunca teriam crucificado o Senhor da glória, se [como tal] O tivessem conhecido” (1 Cor 2,8). Nós, porém, que [de boca] afirmamos conhecê-lO, nem por isso deixamos, por assim dizer, de levantar as mãos contra Ele, todas vez que O negamos em nossas obras.

4. Por quem foi entregue?

Pelo Pai e por Si mesmo          Pela doutrina da Sagrada Escritura, Cristo foi entregue não só pelo Padre, mas também por Si mesmo.

Deus Padre diz pela boca do profeta Isaías: “Eu O feri, por causa da maldade do Meu povo” (Is 53,8). E pouco antes, ao contemplar, por inspiração do Espírito Santo, o Senhor coberto de chagas e feridas, o mesmo Profeta havia declarado: “Todos nós nos desgarramos à maneira de ovelhas. Cada qual se extraviou para seu caminho [errado]. E o Senhor descarregou, sobre Ele, a iniquidade de todos nós” (Is 53,6).

Do Filho, porém, está escrito: “Quando tiver sacrificado Sua vida pelo pecado, verá uma longa posteridade” (Is 53,10).

O Apóstolo confirma esta verdade em termos mais incisivos. Ao mesmo tempo que nos queria mostrar quanto podíamos esperar da imensa misericórdia e bondade de Deus. Diz ele: “Não poupou nem ao Seu próprio Filho, mas entregou-O por todos nós. Como não nos teria dado todas as coisas juntamente com Ele?” (Rm 8,32).


5. O que sofre?

(O prelúdio do Horto)          A seguir, o pároco deve explicar como foram cruéis as dores da Paixão. De per si, bastaria levar em conta o suor que, do Corpo do Senhor, “corria até a terra em gotas de sangue” (Lc 22,44), quando Ele se pôs a considerar os horrorosos tormentos que pouco depois haveria de sofrer.

Desse fato, cada um de nós já pode compreender como aquela dor atingia o máximo grau de intensidade. Ora, se refletindo apenas nos males que O ameaçavam, Jesus Se tomou de tanta angústia, como se vê pelo suor de sangue, que não terá sido [para Ele] a Paixão propriamente dita? Não resta a menor dúvida de que Cristo Nosso Senhor realmente curtiu as maiores dores tanto no corpo, como na alma.

Dores máximas:

a) no Corpo...          Em primeiro lugar, não houve parte do corpo que não sentisse dores extremas. As mãos e os pés, ei-los fixados com pregos no lenho da Cruz; a cabeça, ei-la ponteada de espinhos e ferida com uma cana; o rosto, ei-lo desfeito de escarros e moído de pancadas; o corpo todo, ei-lo enfim derreado de açoites.
quanto aos algozes...          De mais a mais, homens de todas as raças e condições “conspiraram contra o Senhor e contra o Seu Ungido” (Sl 2,2). Eram gentios e judeus os que instigaram, promoveram, e executaram a Paixão de Cristo. Judas traiu-O, Pedro renegou-O, todos os outros Discípulos O abandonaram.

quanto à cruz...          Na própria Cruz, que havemos de lamentar mais ao vivo? a crueza das dores, a afronta do pelourinho, ou ambas as coisas ao mesmo tempo?

Não se podia realmente inventar outro gênero de morte que superasse a crucifixão, quer em ignomínia, quer em crueldade. Era costume infligi-lo aos maiores perversos e criminosos. A lentidão da agonia [na Cruz] tornava mais aguda a sensação das dores e torturas que, de per si, já eram sobremaneira violentas.

quanto à compleição de Seu corpo...          O que fazia acrescer ainda o ardor das penas, era a própria compleição do corpo de Jesus Cristo. Formado pela virtude do Espírita Santo, era muito mais perfeito e delicado do que o pode ser jamais o organismo dos outros homens. Tinha, portanto, maior sensibilidade; sofria mais vivamente todas as grandes torturas.

b) na alma:

O maior martírio           Quanto à dor íntima da alma, ninguém pode contestar que Cristo a sentiu em sumo grau de intensidade. Aos Santos, que padeciam dores e tormentos, Deus nunca lhes recusou consolações espirituais, para que pudessem arrostar inabaláveis a violência do martírio.

Muitos houve, entre eles, que até exultavam de íntima satisfação. De si mesmo dizia o Apóstolo: “Regozijo-me em tudo quanto devo sofrer por vós; e na minha carne completo o que falta aos sofrimentos de Cristo, a bem de Seu corpo que é a Igreja” (Cl 1,24). E noutro lugar: “Estou cheio de consolação, e transbordo de alegria no meio de todas as nossas tribulações” (2 Cor 7,4).

... sem a menor consolação          Cristo Nosso Senhor não quis, todavia, temperar com nenhum alivio o cálice que bebeu, no amargo transe da Paixão (Mt 26,39; Sl 68,21; 141,5; Lc 22,42). Tendo assumido a natureza humana, fê-la sentir todos os tormentos, como se Ele fora puro homem, que não Deus ao mesmo tempo.


Podemos a partir disso, guiar nossa meditação da Paixão de Nosso Senhor, principalmente ao lermos a narração nos Evangelhos, meditando no Santo Rosário, na Via Sacra, etc...


Quanto aos Frutos da Paixão de Nosso Senhor, o Catecismo nos traz:


Frutos da Paixão:

1. Livra-nos do pecado          Agora, resta apenas que o pároco exponha cuidadosamente as graças e frutos, que recebemos da Paixão de Nosso Senhor.

Em primeiro lugar, a Paixão do Senhor livrou-nos do pecado, conforme o declara São João: “Amou-nos, e no Seu Sangue nos lavou de nossos pecados” (Ap 1,5). E o Apóstolo diz também: “[Deus] vos fez reviver com Ele, perdoou-vos todos os pecados, cancelando e pregando na cruz o título de condenação que contra nós fora lavrado” (Cl 2,13-14).

2. livra-nos do demônio          Em segundo lugar, livrou-nos da tirania do demônio. O Senhor mesmo disse: “Eis chegado o julgamento do mundo. O príncipe deste mundo será expulso agora. E Eu atrairei tudo a mim, quando for elevado da terra” (Jo 12,31-32).
 
3. satisfaz pelas penas do pecado          Em terceiro lugar, satisfez a penas devida pelos nossos pecados (Rm 5,10; 2 Cor 5,19).

4. reconcilia-nos com Deus          Em quarto lugar, como não se podia oferecer outro sacrifício mais agradável e mais bem aceito aos olhas de Deus, reconciliou-nos como Pai (Rm 5,10; 2 Cor 5,19), a quem aplacou e tornou  propício para conosco.

5. abre-nos o céu          Finalmente, destruindo o pecado, franqueou-nos a entrada para o céu, à qual punha embargo a culpa comum do gênero humano. É o que o Apóstolo nos dá a entender com as palavras: “Em virtude do Sangue de Cristo, temos  a confiança de entrar no Santo dos Santos” (Hb 10,19)

Na Antiga Aliança,  não faltava  uma figura  deste mistério. Assim, por exemplo, aqueles proscritos, aos quais era defeso repatriar-se antes da morte do sumo sacerdote (Nm 30,25),  eram uma figura dos justos que, apesar de sua justiça e santidade, não podiam  transpor  o limiar  da Pátria Celestial, antes da Morte de Jesus Cristo, o Sumo e Eterno Sacerdote (Hb 9,11ss). Logo que Cristo a sofreu, as portas do céu de pronto se abriram a todos os que, purificados pelos Sacramentos, possuídos de fé, esperança e caridade, se tornaram participantes de Sua Paixão.


Valor da Paixão:

1. Satisfação cabal          O pároco demonstrará que todos estes dons divinos nos advêm da Paixão de Nosso Senhor. Em primeiro lugar, porque Sua Morte é uma satisfação cabal, e em todos os sentidos perfeita, que Jesus Cristo rendeu a Deus Padre pelos nossos pecados, de uma maneira toda particular. O resgate que pagou em nosso lugar, não só igualava com a nossa dívida, mas era-lhe até muito superior (Rm 5,19-21).

2. Sacrifício agradável a Deus          Em segundo lugar, por ter sido infinitamente agradável a Deus o sacrifício que o Filho Lhe ofereceu no altar da Cruz, e pelo qual abrandou inteiramente a cólera e indignação do Pai. Esta é a convicção do Apóstolo, quando nos afirma: “Cristo amou-nos, e por nosso amor Se entregou a Si mesmo, como vítima de suave odor para Deus” (Ef 5,2).

3. Resgate inigualável          Em terceiro lugar, por ter sido o preço de nossa Redenção, conforme as palavras do Príncipe dos Apóstolos: “Fostes resgatados de vossa vida frívola, que herdastes de vossos pais, não a preço de coisas perecíveis, como o são ouro e prata; mas, pelo precioso Sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha nem defeito” (1 Pd 1,18). E o Apóstolo ensina [por sua vez]: “Cristo nos livrou da maldição da Lei, tornando-Se Ele mesmo maldição por nossa causa” (Gl 3,13).

4. Exemplo de virtudes          A par destes imensos benefícios, recebemos ainda outro que de todos é talvez o maior. Naquele padecimento se descobrem os mais brilhantes exemplos de todas as virtudes: paciência, humildade, exímia caridade, mansidão, obediência; máxima constância, não só para sofrer dores, mas até para arrostar a própria morte, por amor da justiça. Disso nos faz [Cristo] tal demonstração, que na verdade podemos dizer: Num só dia de sofrimento, Nosso Salvador encarnou em Si mesmo todas as normas de virtude, que de boca nos havia ensinado, durante todo o tempo de Sua pregação.

Última aplicação          Eis, em poucas palavras, o que importa saber da salutar Paixão e Morte de Cristo Nosso Senhor. Oxalá possamos sempre  meditar estes mistérios no fundo do coração, para aprendermos a sofrer, morrer e sepultar-nos com Nosso Senhor. Se nos purificarmos então de toda mancha de pecado, e ressurgirmos com Ele para uma vida nova, seremos um dia, por Sua graça e misericórdia, dignos de ter parte na glória do Reino celestial (Cl 3,1-4).


Aqui encerramos mais um artigo do Credo. No próximo falaremos do quinto artigo: Desceu aos infernos, ao terceiro dia ressurgiu dos mortos.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Do quarto artigo do “Credo”: padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado.



“Levaram, pois, Jesus da casa de Caifás ao Pretório. Era de manhã. Não entraram no Pretório para se não contaminarem, afim de comerem a Páscoa. Pilatos, pois, saiu fora para lhes falar e disse: Que acusação apresentais contra este homem? Responderam e disseram-lhe: Se este não fosse um malfeitor, não o entregaríamos nas tuas mãos. Pilatos disse-lhes então: Tomai-o vós e julgai-o segundo a vossa lei. Mas os judeus disseram-lhe: A nós não nos é permitido matar ninguém. Para se cumprir a palavra que Jesus dissera, significando de que morte havia de morrer. Tornou, pois, Pilatos a entrar no Pretório, chamou Jesus e disse-lhe: Tu és o rei dos judeus? Respondeu Jesus: Tu dizes isso de ti mesmo, ou foram outros que to disseram de mim? Respondeu Pilatos: Porventura sou eu judeu? A tua nação e os pontífices são os que te entregaram nas minhas mãos. Que fizeste tu? Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, certamente que os meus ministros se haviam de esforçar para que eu não fosse entregue aos judeus; mas o meu reino não é daqui. Disse-lhe então Pilatos: Logo tu és rei. Respondeu Jesus: Tu o dizes, sou rei, nasci, e vim ao mundo para dar testemunho da verdade; todo o que está pela verdade ouve a minha voz. Disse lhe Pilatos: O que é a verdade? Dito isto, tornou a sair, para ir ter com os judeus e disse-lhes: Não encontro nele crime algum. Ora, é costume que eu pela Páscoa, vos solte um prisioneiro; quereis, pois, que vos solte o rei dos judeus? Então gritaram todos novamente, dizendo: Não este, mas Barrabás. Ora, Barrabás era um salteador.

Pilatos tomou então Jesus e mandou-o flagelar. Os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lhe sobre a cabeça e revestiram-no com um manto de púrpura. Depois, aproximavam-se dele e diziam-lhe: Salve, rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas. Saiu Pilatos ainda outra vez fora, e disse-lhes: Eis que vo-lo trago fora, para que conheçais que não encontro nele crime algum. Saiu, pois, Jesus trazendo a coroa de espinhos e o manto de Púrpura. E Pilatos disse-lhes: Eis aqui o homem. Então os, príncipes dos sacerdotes e os ministros, tendo-o visto, gritaram, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós e crucificai-o, porque eu não encontro nele crime algum. Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei e segundo a lei deve morrer, porque se fez Filho de Deus. Pilatos, tendo ouvido estas palavras temeu ainda mais. Entrou novamente no Pretório e disse a Jesus: Donde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta. Então disse-lhe Pilatos: Não me falas? Não ves que tenho poder para te soltar, e também para te crucificar? Respondeu Jesus: Tu não terias poder algum sobre mim, se não fosse dado do alto. Por isso o que me entregou a ti, tem maior pecado.

Desde este momento, procurava Pilatos soltá-lo. Porém os judeus gritavam, dizendo: Se soltas este, não és amigo de César, porque todo o que se faz rei, declara-se contra César. Pilatos, tendo ouvido estas palavras, conduziu Jesus para fora e sentou-se no seu tribunal, no lugar chamado Lithostrotos, em hebraico Gabbatha. Era a Parásceve (ou dia de preparação) da Páscoa, cerca da hora sexta, e disse aos judeus: Eis o vosso rei. Mas eles gritaram: Tira-o, tira-o, crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Pois eu, hei de crucificar o vosso rei? Responderam os pontífices: Não temos rei, senão César. Então entregou-lho, Para que fosse crucificado”.

Jo, 18, 28-40; 19, 1-23

95) Que nos ensina o quarto artigo do Credo: padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado?
O quarto artigo do Credo ensina-nos que Jesus Cristo, para remir o mundo com o seu precioso Sangue, padeceu sob Pôncio Pilatos, governador da Judéia, e morreu no madeiro da Cruz, da qual foi descido, e no fim sepultado.


“Pela declaração de “não conhecer outra coisa senão a Jesus Cristo, e por sinal que Crucificado” (1Cor 2,2), o Apóstolo apregoa a grande necessidade de conhecermos este Artigo, e o zelo que deve ter o pároco em exortar os fiéis a meditarem, o mais possível, a Paixão de Nosso Senhor.

O pároco desvelar-se-á em explicar esta verdade com a maior clareza, para que a lembrança de tão insigne benefício comova os fiéis, e os induza a estimar, devidamente, o amor e a bondade de Deus para conosco.

A primeira parte deste artigo - da segunda se falará mais adiante - nos propõe a crer que Cristo Nosso Senhor foi crucificado, quando Pôncio Pilatos governava, em nome de Tibério César, a província da Judéia. Fora encarcerado, escarnecido, coberto de toda a sorte de opróbrios e tormentos, e finalmente arvorado no madeiro da Cruz.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. V, §1)


96) Que quer dizer a palavra padeceu?
A palavra padeceu exprime todos os sofrimentos suportados por Jesus Cristo na sua Paixão.

97) Padeceu Jesus Cristo enquanto Deus ou enquanto homem?
Jesus Cristo padeceu enquanto homem somente, porque enquanto Deus não podia padecer nem morrer.


“Ninguém deve supor que a parte interior de Sua Alma ficasse talvez isenta das torturas. Uma vez que Cristo assumiu, realmente, a natureza humana, força é reconhecer que também na alma sentiu dores fortíssimas. Esta é a razão de ter dito: “Minha alma está triste a ponto de morrer” (Mt 26,38).

É certo que a natureza humana estava unida à Pessoa Divina, mas nem por isso deixou de sentir menos a amargura da Paixão. Era como se tal união não existisse; na Pessoa única de Cristo se conservavam as propriedades de ambas as naturezas. Por conseguinte, o que era passível e mortal, permaneceu passível e mortal; por sua vez, o que era impassível e imortal - como cremos ser a natureza divina - conservou esta sua propriedade.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. V, §2)


98) Que espécie de suplício era o da cruz?
O suplício da cruz era, naqueles tempos, o mais cruel e ignominioso de todos os suplícios.

99) Quem foi que condenou Jesus Cristo a ser crucificado?
Quem condenou Jesus Cristo a ser crucificado foi Pôncio Pilatos, governador da Judéia, o qual no entanto reconhecera a sua inocência; mas cedeu covardemente às ameaças dos judeus.

100) Não poderia livrar-Se Jesus Cristo das mãos dos judeus ou de Pilatos?
Sim, Jesus Cristo podia livrar-Se das mãos dos judeus ou de Pilatos; mas, conhecendo que a vontade do seu Eterno Padre era que Ele padecesse e morresse pela nossa salvação, submeteu-Se voluntariamente, e até saiu ao encontro dos seus inimigos, e deixou-Se espontaneamente prender e conduzir à morte.


“Neste Artigo, notamos uma certa insistência em indicar-se que Jesus Cristo sofreu durante o tempo, que Pôncio Pilatos governava a Judéia. O pároco ensinará que assim se fez, porque a notícia de um fato tão importante e tão necessário seria mais acessível para todos, desde que se notificasse a época certa de sua ocorrência. Conforme se lê na Escritura, o Apóstolo São Paulo também a indicou. (1Tm 6,13)

Outra razão era para que víssemos, por tais indicações, como realmente se cumpriu a predição de Nosso Salvador: “Entregá-l'O-ão aos gentios, para ser escarnecido, flagelado e crucificado” (Mt 20,19).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. V, §3)

Escolha do suplício:

a) Desígnio de Deus: “Devemos também atribuir a um desígnio de Deus que Cristo, para morrer, escolhesse o madeiro da Cruz. Foi “para que dali mesmo [nos] renascesse a vida, por onde [nos] tinha vindo a morte”. Com efeito, a serpente que por uma árvore (Gn 3,4) vencera nossos primeiros pais, foi vencida por Cristo na árvore da Cruz.

Poderíamos, ainda, alegar muitas outras razões, que os Santos Padres desenvolveram mais largamente, e por elas demonstrar, quanto convinha que Nosso Redentor sofresse, de preferência, a morte na Cruz.

b) o melo mais adequado: O pároco, porém, advertirá os fiéis que lhes basta crer a seguinte razão: Nosso Salvador escolheu tal gênero de morte, porque [Lhe] parecia o mais próprio e conveniente para a redenção do gênero humano. Certamente, não havia outro que fosse mais vergonhoso e mais humilhante. Não eram os pagãos os únicos a verem no suplício da cruz a maior repulsão, infâmia e vergonha; também a Lei de Moisés chama de “maldito o homem que pende do madeiro”.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. V, §4)

O mistério da Cruz:

a) O fato histórico: Não deixe o pároco de narrar o fundo histórico deste Artigo, tão exatamente consignado pelos santos Evangelistas (Mt 26,1-75; 27,1-66; Mc 14,1-72; 15,1-46; Lc 22, 1-71; 23,1-53; Jo 18,1-40; 19,1-42). Fará que os fiéis conheçam, pelo menos, os pontos principais deste Mistério, os que parecem mais necessários para confirmar a verdade de nossa fé. Neste Artigo assentam, como que em sua base, a religião e a fé cristã. Estando bem lançado este fundamento, todas as outras verdades se mantêm firmes e inabaláveis.

b) Sinal de salvação: Se há o que ofereça dificuldades, ao espírito e ao coração humano, será sem dúvida o mistério da Cruz, que de todos é considerado o mais difícil e impenetrável. Todo esforço é pouco, para chegarmos a compreender que nossa salvação depende da própria Cruz, e d'Aquele que nela foi pregado por nossa causa.

c) Objeto da Providência: No entanto, o Apóstolo ensina que neste mistério devemos [justamente] admirar a soberana Providência de Deus. Uma vez que “o mundo, com sua sabedoria, não reconheceu a Deus em Sua divina sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” (1Cor 1,21). Não admira, pois, que os Profetas antes da vinda de Cristo, e os Apóstolos depois de Sua Morte e Ressurreição, tanto fizessem por convencer os homens de que era Ele o Redentor do mundo, e submetê-los ao poder e obediência do Crucificado.

d) Meios de compreendê-lo: Por não haver nada que tanto se afaste da compreensão humana, como o mistério da Cruz, Deus não cessou, logo depois do pecado, de anunciar a morte de Seu Filho, já por figuras, já pelas predições dos Profetas.

... figuras: Vamos falar de algumas figuras. Representavam, antecipadamente, a Paixão e Morte de Cristo Nosso Senhor. Em primeiro lugar, Abel morto pela inveja do irmão (Gn 3,4-8); depois a imolação de Isaac (Gn 22,1-14); o cordeiro sacrificado pelos judeus, ao saírem do Egito (Ex 12,1-14; 21ss); afinal, a serpente que Moisés alçou no deserto (Nm 21,4-9).

... profecias: Quanto aos Profetas, é por demais conhecido o número dos que vaticinaram sobre o mesmo assunto. Não se faz mister entrar aqui em pormenores.

Sem falar de David que, nos Salmos, abrangeu todos os principais mistérios de nossa Redenção, distinguem-se, entre as mais, as predições de Isaías. São tão claras e evidentes que, com razão, se nos afiguram ser antes a narração de fatos consumados, do que uma previsão de coisas futura.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. V, §5)


101) Onde foi crucificado Jesus Cristo?
Jesus Cristo foi crucificado sobre o monte Calvário.

102) Que fez Jesus Cristo na Cruz?
Jesus Cristo na Cruz orou pelos seus inimigos, deu por Mãe ao discípulo São João, e na pessoa dele a nós todos, a sua mesma Mãe, Maria Santíssima; ofereceu a sua morte em sacrifício, e satisfez à justiça de Deus pelos pecados dos homens.

103) Não bastaria que viesse um Anjo satisfazer por nós?
Não bastava que viesse um Anjo satisfazer por nós, porque a ofensa feita a Deus pelo pecado era, sob certo aspecto, infinita; e para satisfazê-la requeria-se unia pessoa que tivesse merecimento infinito.


104) Para satisfazer à justiça divina era necessário que Jesus Cristo fosse Deus e homem ao mesmo tempo?
Sim, era necessário que Jesus Cristo fosse homem para poder padecer e morrer, e era necessário que fosse Deus, para que os seus sofrimentos fossem de valor infinito.

105) Por que razão era necessário que os merecimentos de Jesus Cristo fossem de valor infinito?
Era necessário que os merecimentos de Jesus Cristo fossem de valor infinito, porque a majestade de Deus, ofendida pelo pecado, é infinita.

106) Era necessário que Jesus Cristo padecesse tanto?
Não era absolutamente necessário que Jesus Cristo padecesse tanto, porque o menor dos seus sofrimentos bastaria para a nossa redenção, pois cada um dos seus atos era de valor infinito.

107) Por que então Jesus quis sofrer tanto?
Jesus quis sofrer tanto, para satisfazer mais abundantemente à justiça divina, para nos mostrar mais claramente o seu amor, e para nos inspirar maior horror ao pecado.

108) Aconteceram prodígios na morte de Jesus?
Sim, na morte de Jesus obscureceu-se o sol, tremeu a terra, abriram-se algumas sepulturas, e muitos mortos ressuscitaram.

109) Onde foi sepultado o corpo de Jesus Cristo?
O corpo de Jesus Cristo foi sepultado num túmulo novo, escavado na rocha do monte, pouco distante do lugar onde Ele foi crucificado.

110) Na morte de Jesus Cristo, separou-se a divindade do corpo e da alma?
Na morte de Jesus Cristo a divindade não se separou nem do corpo nem da alma; mas só a alma se separou do corpo.


A Morte de Jesus

a) Jesus podia morrer: “Ademais, homem que era perfeito e verdadeiro, Cristo podia também morrer, no sentido próprio da palavra. Ora, o homem morre, quando a alma se aparta do corpo. Portanto, com o dizermos que Jesus morreu, queremos simplesmente declarar que Sua Alma foi separada do Corpo.

b) Como de fato morreu: Mas, por tal afirmação, não admitimos que do Corpo se tenha separado [também] a Divindade. Muito pelo contrário. Com fé inabalável confessamos que, depois de separada a Alma do Corpo, a Divindade permaneceu sempre unida, não só ao Corpo no sepulcro, como também à Alma nos Infernos.

c) Porque morreu?: Convinha que o Filho de Deus morresse, “a fim de aniquilar aquele que tinha o poder da morte, isto é, o demônio; e libertar aqueles que, pelo temor da morte, passavam toda a vida em escravidão” (Hb 2,14).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. V, §6)


Caráter voluntário:

a) ... morreu porque quis: O que houve de extraordinário em Cristo Nosso Senhor é ter morrido, quando Ele mesmo decretou morrer; é ter sofrido a morte por um ato de Sua vontade, e não por violência estranha. Foi Ele mesmo que determinou não só a Sua própria morte, mas até o lugar e o tempo em que havia de morrer.

segundo Isaías e suas próprias previsões...: Assim pois profetizara Isaías:
“Foi imolado, porque Ele próprio o quis” (Is 53,7). E antes da Paixão, o Senhor mesmo disse de Si próprio: Eu dou a Minha vida, para que a tome de novo. Ninguém a tira de Mim, mas sou Eu que a dou de Mim mesmo. Tenho o poder de dá-Ia, e tenho o poder de tomá-Ia de novo(Jo 10,17-18).

... quanto ao tempo e lugar
: Quando Herodes espreitava a ocasião de Lhe dar a morte, Cristo mesmo Se declarou a respeito do tempo e lugar:
Ide dizer a essa raposa: Eis que lanço fora os demônios, e faço curas hoje e amanhã, e no terceiro dia morrerei. Mas, hoje e amanhã, e no dia seguinte, devo ainda caminhar, porque não convém que um profeta pereça fora de Jerusalém” (Lc 13,32-33).

b) não sucumbiu por violência alheia, mas por força de seu próprio amor: Cristo nada fez, portanto, contra a Sua vontade, ou por imposição alheia. Pelo contrário, foi voluntariamente que Se entregou a Si mesmo. Indo ao encontro de Seus inimigos, disse-lhes: Sou Eu” (Jo 18,5). E de livre vontade aturou todos os iníquos e cruéis tormentos, que Lhe foram infligidos. 

Frutos desta consideração: Quando nos pomos a meditar todas as Suas dores e padecimentos, esta é a circunstância que mais nos deve empolgar o coração. Se alguém tivera sofrido por nós todas as dores, não espontaneamente, mas só por não poder evitá-las, é certo que nessa atitude não veríamos uma mercê de grande valor. Mas, quando alguém sofre a morte só por nossa causa; quando o faz de livre vontade, ainda que lhe seja possível esquivar-se, - então é que nos dá realmente uma prova de extrema bondade. Por mais que desejasse, ninguém teria meios de lho agradecer, e muito menos de lho retribuir condignamente. Por tal critério podemos avaliar o soberano e extremado amor de Jesus Cristo, os direitos divinos e infinitos que adquiriu sobre o nosso coração.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. V, §7)


Sepultura de Jesus:

Em seguida, confessamos que Cristo foi sepultado. Propõe-se esta parte do Artigo, não porque contenha nova dificuldade, além das que já foram resolvidas acerca de Sua morte. Na verdade, fácil será persuadir-nos de que foi também sepultado.

a) provar a morte real: Acrescentou-se esta circunstância, antes de tudo, para que ficasse acima da menor dúvida a realidade de Sua morte. O sinal mais seguro de um trespasse está, pois, em provar-se que o corpo foi sepultado. Esse fato devia também dar maior realce ao milagre da Ressurreição.

b) declarar que Deus foi sepultado: Conforme o dogma de fé expresso naquelas palavras, não cremos simplesmente que o Corpo de Cristo teve sepultura; mas confessamos antes de tudo que [o próprio] Deus foi sepultado. De maneira análoga, dizemos em toda a verdade, e conforme a regra de fé católica, que foi Deus quem morreu, e quem nascera de uma Virgem. De fato, assim como a Divindade nunca se apartou do corpo, quando encerrado no sepulcro, assim temos também toda a razão de confessar que Deus foi sepultado.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. V, §8)

O fato como tal:

a) glória da incorrupção: Quanto à maneira e ao lugar da sepultura, basta que o pároco se atenha à exposição dos Santos Evangelhos. Dois fatos há, aos quais deve votar particular atenção. O primeiro é que o Corpo de Cristo ficou no sepulcro perfeitamente livre de toda decomposição, conforme havia vaticinado o Profeta: Não permitireis que o Vosso Santo sofra corrupção” (Sl 15,10; At 2,27-31).

b) em que sentido foi Deus sepultado: O segundo é que todas as partes deste Artigo, a saber, a Sepultura, a Paixão e a Morte, são atribuídas a Cristo Jesus, enquanto Homem, e não enquanto Deus. O sofrer e o morrer são um quinhão exclusivo da natureza humana. Isto não obstante, enunciamos todas estas coisas também com relação a Deus. Como é evidente, podem ser ditas também daquela Pessoa que, ao mesmo tempo, é Deus perfeito e perfeito Homem.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. V, §9)


111) Por quem morreu Jesus Cristo?
Jesus Cristo morreu pela salvação de todos os homens, e satisfez por todos.

112) Se Jesus Cristo morreu pela salvação de todos, por que nem todos se salvam?
Jesus Cristo morreu por todos, mas nem todos se salvam, porque nem todos O reconhecem, nem todos seguem a sua lei, nem todos se servem dos meios de santificação que nos deixou.

113) Para nos salvarmos não basta que Jesus tenha morrido por nós?
Para nos salvarmos não basta que Jesus Cristo tenha morrido por nós, mas é necessário que sejam aplicados, a cada um de nós, o fruto e os merecimentos da sua Paixão e morte, aplicação que se faz, sobretudo, por meios dos Sacramentos, instituídos para este fim pelo mesmo Jesus Cristo; e como muitos ou não recebem os Sacramentos, ou não os recebem com as condições devidas, eles tornam inútil para si próprios a morte de Jesus Cristo.


No próximo artigo, o que o Catecismo nos traz sobre a Meditação da Paixão de Nosso Senhor e os frutos desta.