domingo, 24 de janeiro de 2016

Do nono artigo do “Credo”: creio na Santa Igreja Católica; na Comunhão dos Santos - Parte I






“Então pareceu bem aos Apóstolos e aos presbíteros, com toda a Igreja, eleger algumas pessoas dentre eles, e enviá-las a Antioquia, com Paulo e Barnabé. (Elegeram) Judas, que tinha o sobrenome de Barsabas, e Silas, pessoas eminentes entre os irmãos, mandando por mão deles esta carta:

“Os Apóstolos e os presbíteros irmãos, aos irmãos convertidos dos gentios, que estão em Antioquia, na Síria e na Cilícia, saúde. Tendo nós sabido que alguns, indo do meio de nós, sem nenhuma ordem da nossa parte, vos perturbaram com discursos que agitaram as vossas almas, aprouve-nos, depois de nos termos reunido, escolher alguns homens, e enviá-los a vós com os nossos muito amados Barnabé e Paulo, homens que têm exposto as suas vidas pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. Enviamos portanto Judas e Silas, que vos exporão as mesmas coisas e de viva voz. Com efeito, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor mais encargos além destes indispensáveis:Que vos abstenhais das coisas imoladas aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas e da fornicação, das quais coisas fareis bem em vos guardar. Adeus.”

Atos 15, 22-29



§ 1º - Da Igreja em geral

142) Que nos ensina o nono artigo do Credo: creio na Santa Igreja Católica; na Comunhão dos Santos?
O nono artigo do Credo ensina-nos que Jesus Cristo fundou sobre a terra uma sociedade visível, a qual se chama Igreja Católica, e que todas as pessoas que fazem parte desta Igreja estão em comunhão entre si.


“Duas considerações nas mostram, principalmente, com quanta atenção devem os pastores explicar aos fiéis as verdades deste nono Artigo.

A primeira é a seguinte: Na opinião de Santo Agostinho,os Profetas insistiam mais em falar da Igreja que do [próprio] Cristo. Previam que muito maior podia Ser o número de pessoas a errarem e iludirem-se neste ponto, do que a respeito do mistério da Encarnação.

Realmente, à guisa do mono que se figura homem, não deixaria de haver ímpios com a pretensão de que só eles são católicos, e com a maldosa e soberba afirmação de que só entre eles existe a [verdadeira] Igreja Católica.

A segunda consideração é que facilmente escapa ao tremendo perigo de heresia, quem assimila esta verdade, com plena convicção. Com efeito, a pessoa não se torna herege só por pecar contra a fé, mas antes por menosprezar a autoridade da Igreja, e defender obstinadamente suas ímpias afirmações.

Por conseguinte, não é possível que alguém contraia a peste da heresia, enquanto aceita o que este Artigo [lhe] propõe a crer. Os pastores, devem, pois, empenhar-se por que os fiéis conheçam [a fundo] este Mistério, e possam assim perseverar na verdade da fé, e defender-se contra as astúcias do inimigo.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. X, §1).


143) Por que, depois do artigo que trata do Espírito Santo, fala-se imediatamente da Igreja Católica?
Depois do artigo que trata do Espírito Santo, fala-se imediatamente da Igreja Católica, para indicar que toda a santidade da mesma Igreja procede do Espírito Santo, que é o autor de toda a santidade.


“Entre este Artigo e o anterior existe uma correlação. Já foi demonstrado que o Espírito Santo é fonte e causa de toda santidade. Ora, no Artigo atual, confessamos que do mesmo Espírito Santo se deriva a santidade de que a Igreja foi dotada.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. X, §1).


144) Que quer dizer esta palavra Igreja?
A palavra Igreja quer dizer convocação ou reunião de muitas pessoas.

145) Quem nos convocou ou chamou para a Igreja de Jesus Cristo?
Nós fomos chamados para a Igreja de Jesus Cristo por uma graça particular de Deus, a fim de que, com a luz da fé e pela observância da lei divina, Lhe prestemos o culto devido, e cheguemos à vida eterna.


Designações de “Ecclesia”:

a) assembléia        “Agora é preciso dar a significação do termo “Igreja”. Os latinos tomaram-na dos gregos, e [só] depois da divulgação do Evangelho é que entrou no vocabulário [especificamente] religioso.

Igreja quer dizer “convocação”. Mais tarde, porém, os escritores empregavam o termo no sentido de “assembleia” e “comício”. Não vem ao caso distinguir aqui se o povo [reunido] adorava ao Deus verdadeiro, ou se abraçava alguma falsa religião. Com referência ao povo de Éfeso, está escrito nos Atos dos Apóstolos que, depois de apaziguar as turbas, o escriba lhes dissera: “Se tendes mais algum agravo, poderá isto resolver-se em legítima assembléia do povo” (At 19,39; Em latim: in legitima ecclesia). Chama, pois, de “assembléia legítima” ao povo de Éfeso, que se consagrava ao culto de Diana.

Dava-se, às vezes, o nome de “assembléia” (ecclesia) não só às nações que não conheciam a Deus, mas até aos ajuntamentos de homens maus e ímpios. “Detesto a assembléia dos maus, diz o Profeta, e com os ímpios não andarei” (Sl 25,5; ecclesiam malignatium).

b) comunidade cristã...        Depois, pelo uso comum da Sagrada Escritura, passou o termo a designar unicamente a comunidade cristã, as reuniões dos fiéis, isto é, daqueles que pela fé foram “convocados” à luz da verdade e ao conhecimento de Deus, que renunciaram [enfim] às trevas da ignorância e do erro, para adorarem pia e santamente o Deus vivo e verdadeiro, e servi-l'O de todo o coração.

Resumindo tudo numa só palavra: “A Igreja, como diz Santo Agostinho, é o povo fiel disseminado pelo mundo inteiro”.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. X, §2).

“como convocação”...        “Não são de pouca monta os mistérios encerrados nesta palavra. Já na idéia de convocação", como significado de Igreja, fulgura a bondade e o resplendor da graça divina, e nisso reconhecemos que a Igreja difere, radicalmente, de todas as outras instituições de direito público.

Estas se baseiam na razão e prudência humana; aquela, porém, foi organizada pela sabedoria e providencia divina. Deus nos “convocou”, interiormente, pela inspiração do Espírito Santo; exteriormente, por obra e empenho dos pastores e pregadores.

Para conhecimento e posse das coisas eternas        Para nós, o fim desta “convocação” não pode ser outro senão o conhecimento e a posse das coisas eternas.

Disso ficaremos plenamente convencidos, se atendermos ao motivo por que o povo fiel, sujeito à lei de Moisés, tinha outrora o nome de “sinagoga”, isto é, aglomeração. No sentir de Santo Agostinho, foi-lhe dado este nome, porque só se concentravam nos bens terrenos e passageiros, à maneira dos animais,cujo instinto é viver em rebanho. Com muito acerto, o povo cristão não se chama sinagoga, mas “igreja” (ecclesia), porque despreza as coisas terrenas e só procura as celestiais e eternas.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. X, §3).

Outras designações:

a) casa de Deus        Há outros nomes ainda, cheios de mistérios, que servem para designara instituição cristã. O Apóstolo chama-lhe casa e edifício de Deus. “Se eu tardar, escreve a Timóteo, saberá como deves proceder na casa de Deus, pois é a Igreja de Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3,15). A Igreja chama-se “casa”, porque constitui por assim dizer uma única família governada por um só pai de família, e na qual existe comunhão de todos os bens espirituais.

b) rebanho de Cristo
c) esposa de Cristo        Chama-se também “rebanho das ovelhas de Cristo” (Jo 10,1ss; Ez 34,11-31; Sl 94,7), das quais Ele é “porta e pastor” (Jo 10,7-11).

Dá-se-1he o nome de “Esposa de Cristo”: “Prometi apresentar-vos, como Virgem pura, ao único Esposo Jesus Cristo” (2 Cor 11,2). Assim escreve o Apóstolo aos Coríntios. O mesmo disse aos Efésios: “Maridos, amai vossas esposas, como Cristo amou a Igreja” (Ef 5, 25). A respeito do Matrimônio declarou: “Este Mistério é grande, mas eu o digo em sua relação com Cristo e a Igreja” (Ef 5,32).

d) corpo de Cristo        Afinal, a Igreja é chamada “Corpo de Cristo”, como se pode averiguar nas epístolas aos Efésios (Ef 1,23) e aos Colossenses (Col 1,18-24; cf. Rm 12,4-5).

Todas estas designações são muito eficazes, para excitar nos fiéis o desejo de se mostrarem dignos da infinita clemência e bondade de Deus, que os escolheu para serem o Seu povo (Lv 26,12; Sl 78,13; Is 62,12; Jr 7,23).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. X, §4).


146) Onde se encontram os membros da Igreja?
Os membros da Igreja encontram-se parte no Céu, e formam a Igreja triunfante;parte no Purgatório, e formam a Igreja padecente; parte na terra, e formam a Igreja militante.

147) Estas diversas partes da Igreja constituem uma só Igreja?
Sim, estas diversas partes da Igreja constituem uma só Igreja e um só corpo,porque têm a mesma cabeça que é Jesus Cristo, o mesmo espírito que as anima e as une, e o mesmo fim que é a felicidade eterna, que uns já estão gozando e que outros esperam.


Partes da Igreja:

“Concluídas estas explicações,será necessário enumerar as partes componentes da Igreja, e mostrar suas diferenças, para que o povo veja melhor a natureza, as propriedades, os dons e as graças desta Igreja tão amada de Deus, e por tal razão não deixe jamais de louvar a santíssima Majestade Divina.

1. Igreja triunfante        Na Igreja, há duas partes principais.Uma se chama triunfante, e outra militante. A Igreja triunfante é a mais luzida e ditosa comunhão dos espíritos bem aventurados e de todos os [homens], que triunfaram do mundo, da carne, e da malícia do demônio, e que, livres e salvos das provações desta vida, já estão no gozo da eterna felicidade.

2. Igreja militante A Igreja militante é o conjunto de todos os fiéis que ainda vivem na terra. Chama-se militante, porque move uma guerra sem tréguas aos mais assanhados inimigos: o mundo, a carne e o demônio (1Jo 2,16; 5,19; Gl 5,17; Tg 4,4).

Nem por isso se deve crer que haja duas Igrejas. Como dizíamos, são duas partes da mesma Igreja. Uma das quais leva a dianteira, e já está na posse da Pátria Celestial; a outra vai avançando, dia por dia, até que por fim se una a Nosso Senhor, para repousar na eterna bem-aventurança.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. X, §5).

(É de praxe distinguirem-se três estados da Igreja: militante, padecente e triunfante. O Catecismo Romano não faz menção da Igreja padecente, mas alude ao purgatório na Primeira Parte, capítulo VI, parágrafos 3 e 6 – onde explica o significado de “infernos” e a finalidade da descida de Nosso Senhor aos “infernos”. As almas benditas pertencem ao corpo místico de Cristo não menos do que os fiéis na terra e os Santos no céu. Em certo sentido, ficam sob a influência da Igreja militante, porquanto esta pode minorar-lhes os sofrimentos pela aplicação de boas obras e indulgências.)


148) A qual das partes da Igreja se refere principalmente este nono artigo?
Este nono artigo do Credo refere-se principalmente à Igreja militante, que é a Igreja na qual estamos atualmente.


quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Do oitavo artigo do “Credo”: creio no Espírito Santo



    “Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente veio do céu um ruído, como de um vento impetuoso, que encheu toda a casa em que estavam sentados. Viram aparecer, então, uma espécie de línguas de fogo, que se repartiram e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.


    Ora, em Jerusalém moravam judeus, homens piedosos, de todas as nações que há debaixo do céu. Ouvindo aquele ruído, acorreu muita gente e se maravilhava de que cada um os ouvisse falar em sua própria língua. Profundamente impressionados, manifestavam sua admiração e diziam: “Estes que estão falando não são todos galileus? Como, então, todos nós os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? Partos, medos, elamitas, os que habitam a Mesopotâmia, a Judéia, a Capadócia, o Ponto, a Ásia, a Frígia, a Panfília, o Egito e as províncias da Líbia, próximas de Cirene, peregrinos romanos, judeus ou convertidos ao judaísmo, cretenses e árabes – todos os ouvimos falar as grandezas de Deus em nossas próprias línguas. Atônitos e fora de si, diziam uns para os outros: “O que quer dizer isso?” Outros, zombando, diziam: “Eles estão cheios de vinho”.


Atos 2, 1-13


130) Que nos ensina o oitavo artigo do Credo: creio no Espírito Santo?
O oitavo artigo elo Credo ensina-nos que existe o Espírito Santo, terceira Pessoa da Santíssima Trindade, e que Ele é Deus eterno, infinito, onipotente, Criador e Senhor de todas as coisas, como o Padre e o Filho.


Sentido e importância do Artigo

“Com o vagar que exigia a natureza do assunto, expusemos até agora as verdades referentes à Primeira e à Segunda Pessoas da Santíssima Trindade. Atualmente, resta ainda explicar o que no Símbolo se contém a respeito da Terceira Pessoa, que é o Espírito Santo.

Na explicação desta matéria, devem os pastores esforçar-se com todo o interesse, porque o cristão não pode, tampouco, ignorar esta parte do Símbolo, nem ter dela uma noção menos exata que dos Artigos anteriores.

1. Necessidade de conhecer o Espírito Santo:        Por isso, o Apóstolo não tolerou que alguns dos Efésios ignorassem a Pessoa do Espírito Santo. Quando lhes perguntou se tinham recebido o Espírito Santo, eles responderam que nem sabiam sequer da existência do Espírito Santo. Então [logo] se informou: “Em que Batismo, pois, fostes vós batizados?” (At 19,2ss). Com tais palavras, deu a entender a absoluta necessidade de terem os fiéis uma noção clara do presente Artigo.

2. Fruto desse conhecimento:        Quando os cristãos meditam seriamente que, por mercê e dádiva do Espírito Santo, receberam tudo quanto possuem (1Cor 12,3-4), o primeiro fruto de tal conhecimento é começarem a ter de si mesmos uma opinião mais modesta e humilde, e a pôr toda a sua esperança no auxílio de Deus. Este deve ser o primeiro passo do cristão para as alturas da sabedoria e da felicidade.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IX, §1).


131) De quem procede o Espírito Santo?
O Espírito Santo procede do Padre e do Filho como de um só princípio, por via de vontade e de amor.

132) Se o Filho procede do Padre, e o Espírito Santo procede do Padre e do Filho, parece que o Padre e o Filho existem antes do Espírito Santo. Como então se diz que são eternas todas as três Pessoas divinas?
Diz-se que são eternas todas as três Pessoas divinas, porque o Padre gerou o Filho desde toda a eternidade, e do Padre e do Filho procede o Espírito Santo, também desde toda a eternidade.


Verdadeiro Deus, igual ao Padre e ao Filho

“Dada a explicação dos termos, deve o povo aprender, em primeiro lugar, que o Espírito Santo é Deus, como o Padre e o Filho, igual a Eles, da mesma onipotência, da mesma eternidade, de suma bondade, de infinita sabedoria, da mesma natureza que a do Padre e do Filho.

Esta igualdade é bem expressa pela partícula “em”, quando dizemos: “Creio no Espírito Santo”. Colocamo-la junto ao nome de cada Pessoa da Santíssima Trindade para exprimir a extensão de nossa fé.

Provas na Escritura

a) Atos dos Apóstolos...        Ora, esta doutrina é também corroborada por evidentes testemunhos da Sagrada Escritura. São Pedro disse, nos Atos dos Apóstolos: “Ananias, por que tentou Satanás o teu coração para mentires ao Espírito Santo?” - e logo acrescentou: “Não mentiste aos homens, mas a Deus” (At 5,3-4). Sem demora designou, como Deus, Aquele que antes chamara “Espírito Santo”.

b) São Paulo...        Na epístola aos Coríntios, o Apóstolo se referia ao Espírito Santo, quando falou d'Aquele que era Deus. “Há diversas operações, diz ele, mas é o mesmo Deus que tudo opera em todos”. E pouco depois acrescentou: “Mas, todas estas coisas são obras de um só e mesmo Espírito, que as distribui a cada um, como é de Seu agrado” (1 Cor 12,6-11).

De mais a mais, nos Atos dos Apóstolos, [São Paulo] atribui ao Espírito Santo o que os Profetas atribuíam unicamente a Deus.

c) Isaías...        Isaías havia declarado: “Ouvi a voz do Senhor que dizia: Quem hei de enviar? E falou-me: Vai, e dirás a este povo: Obceca o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos, e cerra-lhe os olhos, para que não aconteça verem com os próprios olhos, e ouvirem com os próprios ouvidos” (cf. Is 6,8-10).

O Apóstolo cita estas palavras, e comenta: “Bem falou o Espírito Santo pela boca do profeta Isaías” (At 28,25).

d) a fórmula do Batismo.        Não há como duvidar da verdade deste Mistério, já que a Escritura põe na mesma plana a pessoa do Espírito Santo com o Padre e o Filho; quando ordena, por exemplo, empregar no Batismo o nome do Padre, e do Filho, e do Espírito Santo (Mt 28,19). Realmente, se o Padre é Deus, e o Filho é Deus, força nos é confessar que o Espírito Santo também é Deus, pois que Lhes fica ligado pelo mesmo grau de dignidade.

Uma prova a mais é que nenhum fruto se pode tirar do Batismo que fosse conferido em nome de alguma criatura. “Porventura fostes vós batizados em nome de Paulo?” (1 Cor 1,13) pergunta o Apóstolo, a fim de mostrar que tal Batismo de nada lhes adiantaria para a salvação. Portanto, uma vez que nos batizamos em nome do Espírito Santo, cumpre confessar que Ele é Deus.

e) São João... Doxologia Litúrgica        Esta justaposição das três Pessoas, pela qual se demonstra a divindade do Espírito Santo, podemos averiguá-la, quer na epístola de São João: “Três são os que no céu dão testemunho: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo, e estes três são um só” (1 Jo 5,7); - quer naquela gloriosa aclamação da Trindade Santíssima, que remata o Oficio Divino e os Salmos: “Glória ao Padre, e ao Filho, e ao Espírito Santo”.

f) aplicação de tributos divinos        Afinal, uma grande confirmação desta verdade é que as Escrituras aplicam ao Espírito Santo todos os atributos que a fé nos ensina serem próprios de Deus.

Reconhece-Lhe a honra dos templos, quando por exemplo o Apóslolo declara: “Ignorais, talvez que vossos membros são templos do Espírito Santo?” (1 Cor 6,19).

Atribuem-Lhe também as operações de “santificar” (2 Ts 2,12; 1 Pd 1,2), de “vivificar” (Jo 6,64), de “penetrar os arcanos de Deus” (1 Cor 2,10), de “falar pela boca dos Profetas” (2 Pd 1,21), de “estar em toda a parte” (Sl 138,7; Sb 1,7). Tudo isto só pode enunciar-se com relação à Majestade Divina.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IX, §4).

Terceira Pessoa da Santíssima Trindade

“Com a devida atenção, é preciso ainda explicar aos fiéis que o Espírito Santo é Deus, mas que devemos confessá-l'O como Terceira Pessoa [da Santíssima Trindade], distinta do Padre e do Filho, dentro da natureza divina, e produzida pela vontade [de um e de outro].

Sem alegar outros argumentos da Escritura, a fórmula de Batismo, ensinada por Nosso Redentor, mostra com evidência que o Espírito Santo é a Terceira Pessoa, que subsiste por Si mesma na natureza divina, [inteiramente] distinta de ambas as outras Pessoas.

Assim o declara também o Apóstolo na saudação: “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, e a caridade de Deus, e a comunhão do Espírito Santo, seja com todos vós. Amém!” (2 Cor 13,13).

A doutrina de Nicéia-Constantinopla
a) o “Senhor”        Prova de maior evidência ainda é o acréscimo, que a este Artigo fizeram os Padres do Primeiro Concílio de Constantinopla (convocado em 381), para rebaterem o ímpio desatino de Macedônio: [creio] no Espírito Santo, [que também é] Senhor, e dá vida; o qual procede do Padre e do Filho; o qual, com o Padre e o Filho, é juntamente adorado e glorificado; [e] foi quem falou pelos Profetas”.

Ora, confessando que o Espírito Santo é Senhor, [os Padres do Concílio] declaram-n'O infinitamente superior aos Anjos, não obstante serem estes criados por Deus como os espíritos mais perfeitos. No sentir de São Paulo, os Anjos são, “todos eles, espíritos servidores, enviados a servir, em benefício daqueles que conseguem a herança da salvação” (Hb 1,14).

b) o “Vivificador”        Chamam-Lhe, porém, “Vivificador”, porque a alma tira da união com Deus uma vida mais intensa, do que o sustento e a conservação, que o corpo aufere de sua união com a alma. Como a Escritura atribui ao Espírito Santo esta união da alma com Deus (Rm 8,9ss), é claro que de pleno direito seja chamado o “Vivificador”.

c) “procedente” do Padre e do Filho        Seguem-se [no Símbolo de Constantinopla] as palavras: “O qual procede do Padre e do Filho”. Como explicação, cumpre pois ensinar aos fiéis que o Espírito Santo procede do Padre e do Filho como de uma origem única, numa eterna processão. Assim no-lo propõe a crer o cânon de fé da Igreja, do qual não pode o cristão apartar-se; e assim o confirma a autoridade da Escritura e dos Concílios.

Corolários:

1. O Espírito de Cristo        Cristo Nosso Senhor disse, numa ocasião que falava do Espírito Santo: “Ele Me glorificará, porque há de tomar do que é Meu” (Jo 16,14).

A mesma verdade se releva do fato de que, nas Escrituras, o Espírito Santo é chamado, ora “Espírito de Cristo” (At 16,7), ora “Espírito do Pai” (Rm 8,9; At 8,39). Ora se diz que é enviado pelo Pai (At 2,17ss; Mt 10,20; Jo 14,26; Gl 4,6), ora pelo Filho (Jo 15,26; 16,7), para mostrar, com bastante clareza, que tanto procede do Pai, como do Filho.

Diz São Paulo: “Quem não possui o Espírito de Cristo, esse Lhe não pertence” (Rm 8,9). Escrevendo aos Gálatas, o mesmo Apóstolo chama-Lhe Espírito de Cristo: “Enviou Deus a vossos corações o Espírito de Seu Filho, que clama: Abba, Pai!” Gl 4,6.

2. O Espírito do Pai        No Evangelho de São Mateus, é chamado “Espírito do Pai”: “Não sois vós quem fala, mas o Espírito de vosso Pai” (Mt 10,20). Na última Ceia, Nosso Senhor explicou-Se assim: “O Consolador que Eu vos hei de enviar, o Espírito da verdade, que do Pai procede, Ele dará testemunho de Mim” (Jo 15,26). Noutra parte, afirma que o mesmo Espírito Santo será enviado pelo Pai: “[O Espírito Santo] que o Pai há de enviar em Meu nome” (Jo 14,26). Ora, tal linguagem se refere à processão do Espírito Santo; mostra, pois, claramente, que o Mesmo procede de ambos, [Pai e Filho].

São estes os pontos que se devem ensinar, com referência à Pessoa do Espírito Santo.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IX, §5).


133) Por que a terceira Pessoa da Santíssima Trindade se designa particularmente com o nome de Espírito Santo?
Designa-se a terceira Pessoa da Santíssima Trindade particularmente com o nome de Espírito Santo, porque procede do Padre e do Filho por meio de expiração e de amor.


A Pessoa do Espírito Santo

Nome:        “A exposição do Artigo deve começar pelo sentido que, neste lugar, se dá ao termo “Espírito Santo”. Com toda a propriedade, é atribuído o mesmo nome ao Padre e ao Filho, pois que ambos são “Espírito” (Jo 4,24; 2 Cor 3,17) e “Santo” (Is 6,3; Ap 4,8); e que, de nossa parte, confessamos que Deus é um [puro] espírito. Além disso, aplicamos a mesma designação aos Anjos (Sl 103,4; Hb 1,7) e às almas dos justos (Sl 145,4; Ecles 12,7). Portanto, é preciso atender que o povo não caia em erro, pela ambiguidade de expressão.

Significação, Testemunhos bíblicos:        Devemos ensinar que, neste Artigo, o nome de “Espírito Santo” indica a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, conforme o sentido que ocorre nas Sagradas Escrituras, algumas vezes no Antigo, e com frequência em o Novo Testamento.

Assim rezava David: “E não tireis de mim o Vosso Espírito Santo!” (Sl 50,13). No Livro da Sabedoria lemos a passagem: “Quem conhecerá os Vossos desígnios, se Vós lhe não derdes a sabedoria, e das maiores alturas lhe não enviardes o Vosso Santo Espírito?” (Sb 9,17). E noutro lugar: “Ele próprio a criou [a sabedoria] no Espírito Santo” (Ecles 1,9).

Em o Novo Testamento, recebemos ordem de sermos batizados “em nome do Padre, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28,19). Lemos também que a Santíssima Virgem “concebeu do Espírito Santo” (Lc 1,35; Mt 1,18-20). São João [Batista] envia-nos a Cristo, que “nos batiza no Espírito Santo”. Quando lemos as Escrituras, depara-se-nos a mesma expressão em muitos outros lugares.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IX, §2).

Nome comum...        “Ninguém deve estranhar que à Terceira Pessoa se não conferisse nome próprio, como foi dado à Primeira e à Segunda.

Tem nome próprio a Segunda Pessoa, e chama-se Filho, porque Sua eterna origem do Pai se diz propriamente “geração”. Isto foi explicado nos Artigos anteriores. Por conseguinte, como aquela origem é designada pelo nome de geração, assim damos o Nome próprio de Filho à Pessoa que descende, e de Pai à Pessoa da qual descende.

Como não se pôs designação particular à origem da Terceira Pessoa, mas veio a chamar-se sopro ou processão, segue-se que a Pessoa [assim] produzida não leva nome próprio.

... motivo de não haver nome próprio        A razão de não haver nome próprio para a origem do Espírito Santo, é porque somos obrigados a tirar das coisas criadas os nomes que se atribuem a Deus. Ora, nas criaturas não conhecemos outra maneira de comunicar natureza e essência, senão a que se opera em virtude da geração. Daí nos falta a possibilidade de exprimir, em termo adequado, como Deus Se comunica inteiramente a Si próprio pela força do amor. Este é o motivo de chamarmos a Terceira Pessoa pelo nome comum de “Espírito Santo”.

Apesar disso, reconhecemos que o nome Lhe vai com propriedade; porque é o Espírito Santo que nos infunde a vida espiritual, e, sem o sopro de Seu poder santíssimo, nada logramos fazer que seja digno da vida eterna.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IX, §3).


134) Que obra se atribui especialmente ao Espírito Santo?
Ao Espírito Santo atribui-se especialmente a santificação das almas.

135) O Padre e o Filho santificam-nos também, como o Espírito Santo?
Sim, todas as três Pessoas divinas nos santificam igualmente.

136) Se é assim, por que atribui-se ao Espírito Santo a santificação das almas?
Atribui-se em particular ao Espírito Santo a santificação das almas, porque é obra de amor, e as obras de amor atribuem-se ao Espírito Santo.


Efeitos do Espírito Santo

1. Operações em geral:

“É preciso ainda ensinar que existem certos efeitos sublimes, e certos dons preciosos que são próprios do Espírito Santo, e d'Ele nascem e se derivam, como de uma fonte inexaurível de bondade.

Ainda que as operações exteriores da Santíssima Trindade são comuns às três Pessoas, muitas delas se atribuem de modo particular ao Espírito Santo, para entendermos que partem do infinito amor de Deus para conosco. Já que o Espírito Santo procede da vontade divina, enquanto abrasada de amor, é óbvio que as operações, atribuídas de modo particular ao Espírito Santo, promanam do soberano amor de Deus para conosco.

Por isso é que o Espírito Santo se chama “dom” [por excelência]: conceito que exprime uma doação, feita por benevolência, a título gratuito, sem nenhum interesse de retribuição. Sendo assim, devemos reconhecer, com piedosa gratidão, que os bens e benefícios que de Deus temos recebido. Se o Apóstolo pergunta: “Que temos nós, que de Deus não tenhamos recebido?” (1 Cor 4,7) - todos eles nos foram concedidos por mercê e graça do Espírito Santo.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IX, §7).

2. Operações em particular:

Vivificação espiritual, distribuição de dons        “Há, porém, várias operações do Espírito Santo. Sem realçar aqui a criação do mundo, a propagação e a direção dos seres criados - assunto que já foi tratado no Artigo primeiro - acabamos de ver, há pouco, que ao Espírito Santo se atribui de modo peculiar a vivificação, conforme o atesta o vidente Ezequiel: “Dar-vos-ei o Espírito, e vós vivereis” (Ez 37,6).

Ora, os efeitos principais e mais próprios do Espírito Santo, o Profeta [Isaías] os enumera: “O Espírito de sabedoria e inteligência, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de ciência e de piedade, e o Espírito do temor de Deus” (Is 11,2-3; São Paulo fala do frutos do Espírito Santo em Gl 6,2).

Corolário:

Advertência de Santo Agostinho        Estes efeitos se chamam dons do Espírito Santo, e por vezes levam até o nome de Espírito Santo. Por conseguinte, quando ocorre nas Escrituras o nome de “Espírito Santo”, é com muita prudência que Santo Agostinho nos manda averiguar, se designa a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, ou apenas Seus dons e operações. Estes dois sentidos diferem tanto entre si, quanto cremos que o Criador difere das coisas criadas.

São estes os pontos que exigem maior cuidado na explicação, pois que pelos dons do Espírito Santo chegamos a conhecer as normas da vida cristã, e por eles podemos verificar se em nós habita o [próprio] Espírito Santo.

Infusão da graça santificante        Entre todos os mais dons de Sua liberalidade, devemos enaltecer a graça de justificação, porquanto nos assinala com o “prometido Espírito Santo, que é o penhor de nossa herança” (Ef 1,13-14).

Esta é a graça que, num elo íntimo de amor, une nossa alma a Deus. Tem por efeito que, movidos por intenso ardor de piedade, começamos vida nova; e que, “participando da natureza divina” (2 Pd 1,4), “recebemos o nome de filhos de Deus, e o somos na realidade” (1 Jo 3,1).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. IX, §8).


137) Quando o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos?
O Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos no dia de Pentecostes, isto é, cinquenta dias depois da Ressurreição de Jesus Cristo, e dez dias depois da sua Ascensão.

138) Onde ficaram os Apóstolos nos dez dias antes da festa de Pentecostes?
Os Apóstolos ficaram reunidos no Cenáculo em companhia da Virgem Maria e dos outros discípulos, e perseveravam na oração esperando o Espírito Santo que Jesus lhes havia prometido.
 
139) Quais foram os efeitos que o Espírito Santo produziu nos Apóstolos?
O Espírito Santo confirmou na fé os Apóstolos, encheu-os de luzes, de forças, de caridade e da abundância de todos os seus dons.

140) Foi enviado o Espírito Santo só aos Apóstolos?
O Espírito Santo foi enviado a toda a Igreja e a todas as almas fiéis.

141) Que opera o Espírito Santo na Igreja?
O Espírito Santo, como a alma no corpo, vivifica a Igreja com a sua graça e com os seus dons; estabelece nEla o reino da verdade e do amor; e assiste-Lhe a fim de que oriente os seus filhos com firmeza no caminho do Céu.


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Do sétimo artigo do “Credo”: de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos


“Quando o Filho do homem vier em sua glória com todos os seus anjos, então se assentará no seu trono glorioso. Em sua presença, todas as nações se reunirão e ele vai separar uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos, à esquerda. E o rei dirá aos que estiverem à sua direita: Vinde, abençoados por meu Pai! Tomai posse do Reino preparado para vós desde a criação do mundo. Porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, fui peregrino e me acolhestes e, estive nu e me vestistes, enfermo e me visitastes, estava na cadeia e viestes ver-me. E os justos perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te alimentamos, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? Quando foi que te vimos enfermo ou na cadeia e te fomos visitar? E o rei dirá: Eu vos garanto: todas as vezes que fizestes isso a um desses meus irmãos menores, a mim o fizestes.

Depois dirá aos da esquerda: Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque eu tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, fui peregrino e não me destes abrigo; estive nu e não me vestistes, enfermo e na cadeia e não me visitastes. E eles perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos faminto ou sedento, peregrino ou enfermo ou na cadeia e não te servimos? E ele lhes responderá: Eu vos garanto: quando deixastes de fazer isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes. E estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos, para a vida eterna.”


Mt 25, 31-46

124) Que nos ensina o sétimo artigo do Credo: de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos?
O sétimo artigo do Credo ensina-nos que no fim do mundo Jesus Cristo cheio de glória e de majestade, há de vir do Céu para julgar todos os homens, bons e maus, e para dar a cada um o prêmio ou o castigo que tiver merecido.

“Jesus Cristo honra e engrandece a Sua Igreja com três importantes Ministérios: de Redentor, de Protetor, e de Juiz.

Pelos Artigos anteriores, já sabemos que Ele remiu o gênero humano pela Sua Paixão e Morte, e que pela Ascensão se tornou o perpétuo advogado e defensor de nossa causa. No presente Artigo, só resta explicar a Sua função de juiz. O Artigo quer dizer que Cristo Nosso Senhor, naquele dia supremo, há de julgar todo o gênero humano.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VIII, §1).

“As Sagradas Escrituras atestam que são duas as vindas do Filho de Deus. A primeira foi quando assumiu carne, para nos salvar, e Se fez homem no seio da Virgem; a segunda será, quando vier para julgar todos os homens, na consumação dos séculos.

Nas Escrituras, esta segunda vinda se chama “Dia do Senhor” (1Pd 3,10; Ap 3,26), do qual diz o Apóstolo: “O dia do Senhor há de vir como o ladrão de noite” (1Ts 5,2). “Aquele dia, porém, e aquela hora, ninguém os conhece” - declara o próprio Salvador (Mt 24,36).

Em prova do Juízo Final, basta citar esta passagem do Apóstolo: “Todos nós teremos de comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba retribuição do bem ou do mal, que tiver praticado em sua vida terrena” (2Cor 5,10; Rm 14,10).

Se desde o inicio do mundo, todos ansiavam por aquele primeiro dia em que o Senhor Se revestiu de nossa carne, porquanto nesse mistério havia a esperança de seu resgate, também agora devemos - depois da Morte e Ascensão do Filho de Deus – suspirar ardentemente pelo segundo Dia do Senhor, “aguardando a ditosa esperança e o aparecimento da glória do grande Deus” (Tt 2,13).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VIII, §2).


125) Se cada um, logo depois da morte há de ser julgado por Jesus Cristo no juízo particular, por que havemos de ser julgados todos no Juízo universal?
Havemos de ser julgados todos no Juízo universal por várias razões:
1) para glória de Deus;
2) para glória de Jesus Cristo;
3) para glória dos Santos;
4) para confusão dos maus;
5) finalmente para que o corpo, depois da ressurreição universal, tenha juntamente com a alma a sua sentença de prêmio ou de castigo.


“Na explicação desta matéria, os párocos terão de atender às duas ocasiões, em que todo homem deve comparecer na presença do Senhor, para dar contas de todos os seus pensamentos, ações e palavras, e para aceitar finalmente a sentença imediata do Juiz (Hb 9,27).

A primeira ocasião é o momento, em que cada um de nós deixa este mundo; a alma é levada incontinente ao tribunal de Deus, onde se examina com a máxima justeza, tudo o que o homem jamais fez, disse, e pensou em sua vida.

É o que chamamos Juízo Particular.

A segunda ocasião, porém, há de ser quando todos os homens terão de comparecer juntos, no mesmo dia e no mesmo lugar, perante o tribunal do juiz, para que, na presença de todos os homens de todos os séculos, cada um venha a saber a sentença, que a seu respeito foi lavrada.

Para os ímpios e malvados, esta declaração de sentença não constituirá a menor parte de suas penas e castigos; ao passo que os virtuosos e justos nela terão uma boa parte de sua alegria e galardão. Naquele instante, será pois revelado o que foi cada indivíduo, durante a sua vida mortal.

Este Juízo se chama universal.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VIII, §3).


126) Como é que no Juízo universal há de manifestar-se a glória de Deus?
No Juízo universal há de manifestar-se a de Deus, porque todos hão de reconhecer a justiça com que Deus governa o mundo, embora se vejam às vezes os bons a sofrer e os maus em prosperidade.

127) Como é que no Juízo universal há de manifestar-se glória de Jesus Cristo?
No Juízo universal há de manifestar-se a glória de Jesus Cristo, porque, tendo Ele sido injustamente condenado pelos homens, aparecerá então à face do mundo inteiro como Juiz supremo de todos.

128) Como é que no Juízo universal há de manifestar-se a glória dos Santos?
No Juízo universal há de manifestar-se a glória dos Santos, porque muitos deles, que morreram desprezados pelos maus, hão de ser glorificados em presença de todos os homens.

129) No Juízo universal qual será a confusão dos maus?
No Juízo universal a confusão dos maus será enorme, especialmente a daqueles que oprimiram os justos, e ti daqueles que, durante a vida, procuraram ser tidos, falsamente, por homens virtuosos e bons, pois verão manifestados, à vista de todo o inundo, os pecados que cometeram ainda os mais ocultos.


Motivos para o Juízo Universal

a) abrir todas as consciências:     “Será então necessário mostrar por que, além do Juízo Particular para cada um, se fará ainda outro geral para todos os homens.

Ora, os mortos deixam às vezes filhos que imitam os pais; parentes e discípulos que seguem e propagam seus exemplos em palavras e obras. Esta circunstância deve aumentar os prêmios ou castigos dos próprios mortos.
Tal influência, que a muitos empolga, em seu caráter benéfico ou maligno, não acabará senão quando romper o último dia do mundo. Convinha, pois, fazer-se então uma perfeita averiguação de todas essas obras e palavras, quer sejam boas, quer sejam más (para que cada qual veja o alcance de suas responsabilidades sociais). O que, porém, não seria possível sem um julgamento geral de todos os homens.

b) reabilitar os justos:     Outro motivo ainda. Muitas vezes, os justos são lesados em sua reputação, porquanto os ímpios passam por grandes virtuosos. Pede a divina justiça que, numa convocação para o público julgamento de todos os homens, possam os justos recuperar a boa fama, que lhes fora iniquamente roubada aos olhos do mundo.

c) responsabilizar também o corpo:      Além disso, em tudo o que façam durante a vida, os bons e os maus não prescindem da cooperação de seus corpos. Daí decorre, necessariamente, que as boas ou más ações [praticadas] devem atribuir-se também aos corpos, que delas foram instrumentos.
Era, pois, de suma conveniência que os corpos partilhassem, com as almas, dos prêmios da eterna glória ou dos suplícios, conforme houvessem merecido. Isto, porém, não poderia efetuar-se, sem a ressurreição de todos os homens, e sem um julgamento universal.

d) justificar a Providência de Deus:     Como também a fortuna e a desgraça não fazem escolha entre bons e maus, era necessário provar que tudo é dirigido e governado pela infinita sabedoria e justiça de Deus. Convinha, pois, não só reservar prêmios aos bons e castigos aos maus, na vida futura, mas também decretá-los num juízo público e universal, que os tornasse mais claros e evidentes a todos os homens.

Desta forma, todos renderão louvor a Deus pela sua justiça e providência, em desagravo daquela injusta queixa com que às vezes os próprios Santos, por fraqueza humana, se lastimavam, ao verem os maus na posse de grandes cabedais e dignidades.

O Profeta dizia: “Meus pés estiveram a ponto de vacilar. Por pouco se não transviaram os meus passos, porque me enchi de zelo contra os maus, quando observava a vida bonançosa dos pecadores” (Sl 72,2-3). E mais adiante: “Eis que, sendo pecadores, e favorecidos pelo mundo, eles conseguiram riquezas. E eu disse: Então não me adiantou guardar puro o meu coração, e lavar em inocência as minhas mãos; em ser torturado o dia inteiro, e padecer aflição desde o romper da madrugada” (Sl 72,12-14).

Por conseguinte, era preciso haver um Juízo Universal, a fim de que os homens se não pusessem a comentar que Deus passeia pelos quadrantes do céu, e que pouco se Lhe dá a sorte das coisas terrenas (Jó 22,14). Com toda a razão foi incluída a fórmula desta verdade nos doze Artigos do Credo, para apoiar, com a força de sua doutrina, os ânimos que duvidem da providência e justiça de Deus.

e) alentar os bons e aterrar os maus:     Sobretudo, era mister que a lembrança do Juízo alentasse os bons, e aterrasse os maus. Conhecendo a justiça de Deus, aqueles não viriam a desfalecer; estes seriam arredados do mal, graças ao temor e à expectação dos eternos castigos.

Por isso, falando do Último Dia, Nosso Senhor e Salvador declarou que haveria um Juízo Universal. Descreveu os sinais do tempo em que há de chegar, para que, ao vê-los, reconhecêssemos estar perto o fim do mundo. Depois, no momento de subir aos céus, enviou Anjos que consolassem os Apóstolos, tristes com Sua ausência, [e lhes dissessem] as seguintes palavras: “Este Jesus que de vosso meio foi arrebatado ao céu, há de vir assim como O vistes subir ao céu” (At 1,11).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VIII, §4).

O Juiz: “Ensinam as Sagradas Escrituras, que a Cristo Nosso Senhor foi entregue o julgamento, não só enquanto Deus, mas também enquanto Homem. Ainda que o poder de julgar é comum a todas as Pessoas da Santíssima Trindade, contudo o atribuímos ao Filho de modo particular, por dizermos que Lhe compete também a sabedoria. Uma declaração do Senhor confirma que Ele, enquanto Homem, há de julgar o mundo: “Assim como o Pai tem a vida em Si mesmo, assim concedeu também ao Filho ter a vida em Si mesmo; conferiu-Lhe o poder de julgar, porque é o Filho do Homem” (Jo 5,26ss).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VIII, §5).

Porque será Cristo?:  “Fica multo bem que esse Juízo seja efetuado por Cristo Nosso Senhor. Já que os julgados são homens, ser-lhes-á possível ver o juiz com os olhos corporais, e com os próprios ouvidos escutar a sentença que lhes for lavrada, e pelos sentidos chegar ao perfeito conhecimento da ação judicial.

De mais a mais, era de suma justiça que aquele Homem, que fora condenado pela mais iníqua das sentenças humanas, tomasse assento à vista de todos, para julgar todos os homens. Por isso é que, depois de expor, em casa de Cornélia, os pontos capitais da religião cristã; depois de ensinar que Cristo fora crucificado e morto pelos judeus, mas que ao terceiro dia havia ressurgido: - o Príncipe dos Apóstolos não deixou de acrescentar: “E deu-nos ordem de pregar ao povo, e testemunhar que Ele foi por Deus instituído Juiz dos vivos e dos mortos” (At 10,42).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VIII, §6).

Sinais que precedem ao Juízo

Como sinais que precedem o Juízo, as Sagradas Escrituras enumeram três principais: a pregação do Evangelho pelo mundo inteiro, a apostasia, o anticristo.

Com efeito, assim falou Nosso Senhor: “Será pregado este Evangelho do Reino por todo o mundo, para servir de testemunho a todos os povos, e depois há de vir a consumação” (Mt 24,14). E o Apóstolo nos adverte que ninguém se iluda, “como se o Dia do Senhor esteja vizinho” (1Ts 2,2); porquanto não se fará o Juízo, “sem que venha antes a apostasia, e tenha aparecido o homem do pecado” (2Ts 2,3).

O Julgamento

a) a sentença dos bons        As circunstâncias do Juízo, os párocos poderão vê-las comodamente nas profecias de Daniel (Dn 7,9), na doutrina dos Santos Evangelhos (Mt 24,1ss; 25,1ss; Mc 13,26) e do Apóstolo São Paulo (1Cor 15,52; 1Ts 2,1-11; 4,12-16; 5,1-11).

Neste lugar, o que merece maior atenção é a sentença que pelo juiz será pronunciada (Mt 25,34).

Cristo Nosso Senhor lançará um olhar de jubilosa complacência para as justas colocados à direita, e com extremos de bondade lhes dirá a seguinte sentença: “Vinde, benditos de Meu Pai, tomai posse do Reino, que vos está preparado desde o princípio do mundo” (Mt 25,34).

Não se poderá ouvir palavra mais suave do que esta! Assim há de averiguá-lo quem a cotejar com a condenação dos maus; quem levar em conta que tal sentença chama os homens bons e justos, da labuta ao descanso, deste vale de lágrimas aos cimos da alegria, das tribulações à eterna bem aventurança, que eles mereceram por suas obras de caridade.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VIII, §7).

b) sentença dos maus        Volvendo-se, então, para aqueles que estarão à esquerda, lançará sobre eles o rigor de Sua justiça, usando das palavras: “Apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno que foi preparado ao demônio e seus anjos” (Mt 25,41).

As primeiras palavras – “apartai-vos de mim” – exprimem a maior das penas que atingirá os maus, quando forem lançados o mais longe possível da presença de Deus, sem que os possa consolar a esperança de virem jamais a gozar de um bem tão perfeito.

... a pena de dano        Esta é a pena que os teólogos chamam “pena de dano”, porque os réprobos no inferno ficarão para sempre privados da luminosa visão de Deus.

O acréscimo “malditos” agrava-lhes a miséria e desgraça, de uma maneira pavorosa. Se, na verdade, ao serem escorraçados da presença de Deus, fossem pelo menos julgados dignos de alguma bênção, não há dúvida que nisso poderiam ter grande consolação. Mas, como não lhes é dado esperar consolo semelhante para mitigar sua desgraça, de pleno direito a justiça divina os perseguirá, com todas as maldições, a partir do momento em que são [inteiramente] repudiados.

a pena dos sentidos        Seguem-se então as palavras: “para o fogo eterno”. A esta segunda espécie de tormentos chamam os teólogos “pena dos sentidos”, porque empolga os sentidos do corpo, como acontece nos açoites, flagelações, e outros gêneros de suplícios mais pesados.

Não é para duvidar que, entre eles, a tortura do fogo causa a mais intensa sensação de dor. Como tal suplício deve durar para todo o sempre, temos nessa circunstância uma prova de que o castigo dos réprobos concentra em si todos os suplícios possíveis.

Mostram-no, com maior clareza, as últimas palavras da condenação: “que foi preparado para o demônio e seus anjos”. Por índole nossa, não sentimos tanto os sofrimentos, quando temos algum parceiro a repartir conosco o infortúnio, e que até certo ponto nos assiste e conforta, com sua prudência e bondade. Qual não será, porém, a miséria dos condenados, uma vez que em tantas aflições não poderão jamais apartar-se da companhia dos mais perversos demônios?

Muito justa será, naturalmente, a condenação que Nosso Senhor e Salvador há de proferir contra os maus; porque eles vilipendiaram todas as obras de verdadeira piedade. Não deram de comer, nem de beber ao faminto e ao sequioso; não agasalharam o peregrino; não cobriram o desnu; não visitaram o preso, nem o enfermo.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VIII, §8).