quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Do quinto artigo do “Credo”: desceu aos infernos, ao terceiro dia ressurgiu dos mortos



“No dia seguinte, isto é, depois da sexta-feira, os sumos sacerdotes e os fariseus foram a Pilatos e disseram: “Senhor, lembramo-nos de que aquele impostor disse em vida: 'Depois de três dias ressuscitarei'. Manda, pois, guardar o sepulcro até o terceiro dia para não acontecer que os seus discípulos venham roubar o corpo e digam ao povo: 'Ele ressuscitou dos mortos'. E esta última impostura será pior do que a primeira”. Pilatos lhes disse: “Vós tendes a guarda. Ide e guardai-o como bem entendeis”. Eles foram e puseram guarda ao sepulcro depois de selarem a pedra. 
Passado o sábado, ao amanhecer do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. Subitamente houve um grande terremoto, pois um anjo do Senhor desceu do céu, aproximou-se, rolou a pedra do sepulcro e sentou-se nela. O seu aspecto era como o de um relâmpago e sua veste, branca como a neve. Paralisados de medo, os guardas ficaram como mortos. O anjo, dirigindo-se às mulheres, disse: “Não tenhais medo. Sei que procurais Jesus, o crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou conforme tinha dito. Vinde ver o lugar onde estava. Ide logo dizer a seus discípulos que ele ressuscitou dos mortos e que vai à frente de vós para a Galiléia. Lá o vereis. Eis o que eu tinha a dizer”.
Jesus aparece às mulheres. Afastando-se logo do túmulo, cheias de temor e grande alegria, correram para dar a notícia aos discípulos. De repente, Jesus saiu ao encontro delas e disse-lhes: “Salve!”
Elas se aproximaram, abraçaram-lhe os pés e se prostraram diante dele. Disse-lhes então Jesus: “Não tenhais medo! Ide dizer a meus irmãos que se dirijam à Galiléia e lá me verão”.

Mt 27, 62-66; 28, 1-10.


114) Que nos ensina o quinto artigo do Credo: desceu aos infernos, ao terceiro dia ressurgiu dos mortos?
O quinto artigo do Credo ensina-nos que a alma de Jesus Cristo, assim que se separou do corpo, foi ao Limbo e que, no terceiro dia, se uniu de novo ao corpo, para nunca mais dele se separar.


“A primeira cláusula deste Artigo propõe-nos a crer que, após a morte de Cristo, Sua Alma desceu aos infernos, e lá ficou todo o tempo que Seu Corpo esteve no sepulcro.

Com estas palavras, confessamos igualmente que a mesma Pessoa de Cristo esteve nos Infernos, ao mesmo tempo que jazia no túmulo. Este fato não deve estranhar a ninguém. Conforme já dissemos várias vezes, a Divindade nunca se apartou da alma nem do corpo, não obstante a separação que houve entre alma e corpo.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VI, §1)


115) Que se entende aqui por inferno?
Por inferno entende-se aqui o Limbo, isto é, aquele lugar onde estavam as almas dos justos, esperando a redenção de Jesus Cristo.


Explicação de infernos

Sentido negativo de “infernos”:     Para maior evidência deste Artigo, o pároco começará por explicar em que sentido se toma aqui a palavra “infernos”. Deverá, pois, inculcar que não quer dizer sepultura,
conforme alguns asseveravam, com uma impiedade igual à sua própria ignorância.

No Artigo anterior, vimos com efeito que Cristo Nosso Senhor fora sepultado. Ora, não havia motivo para que os Apóstolos, na composição do Símbolo, repetissem a mesma verdade com outras palavras, por sinal que mais obscuras.

Sentido positivo:     A expressão “infernos” designa os ocultos receptáculos em que são detidas as almas que não conseguiram a bem-aventurança do céu.

Neste sentido, ocorre em muitos lugares da Sagrada Escritura. Lê-se, por exemplo, numa epístola do Apóstolo: “Ao nome de Jesus, deve dobrar-se todo o joelho, no céu, na terra, e nos infernos”. E nos Atos dos Apóstolos atesta São Pedro que “Cristo Nosso Senhor ressuscitou, depois de vencer as dores dos infernos” At 2,24.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VI, §2)


Classificação

a) Inferno     Mas esses receptáculos são de várias categorias. Um deles é a horrenda e tenebrosa prisão, em que as almas réprobas são atormentadas num fogo eterno e inextinguível (Mc 9,44ss), juntamente com os espíritos imundos. Chama-se também “geena” (Mt 5,22; 23,15-33; 25,41; Lc 12,5), e  “abismo” (Ap 9,11; 20,3). É o inferno propriamente dito.

b) Purgatório     Há também um fogo de expiação, no qual por certo tempo se purificam as almas dos justos, até que lhes seja franqueado o acesso da Pátria Celestial, [lugar] onde nada de impuro pode entrar (Ap 21,19).

Consoante as declarações dos Santos Concílios, esta verdade tem por si os testemunhos da Escritura e da Tradição Apostólica. O pároco deve, pois, apregoá-la com maior desvelo e assiduidade, do que nenhuma outra, porquanto chegamos a uma época, em que os homens já não suportam a sã doutrina (2 Tm 4,3).

c) Limbo     Existe, afinal, um terceiro receptáculo, em que eram recolhidas as almas justas, antes da vinda de Cristo. Ali desfrutavam um suave remanso, sem nenhuma sensação de dor. Alentavam-se com a doce esperança do resgate. Estas almas eleitas aguardavam o Salvador no seio de Abraão (Lc 16,22-23); foi a elas que Cristo Nosso Senhor libertou, na descida aos infernos.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VI, §3)


116) Por que as almas dos justos não foram introduzidas no Paraíso antes da morte de Jesus Cristo?
As almas dos justos não foram introduzidas no Paraíso antes da morte de Jesus Cristo, porque pelo pecado de Adão o Paraíso estava fechado; e convinha que Jesus Cristo, cuja morte o reabriu, fosse o primeiro a entrar nele.


Explicação

1) Descida da alma de Cristo...     “Não se deve, porém, julgar que Cristo desceu de tal maneira aos infernos, que ali só chegasse com Seu poder e virtude, e não com Sua própria alma. Devemos crer, ao contrário, que a própria Alma realmente desceu aos infernos, e ali esteve presente com toda as Suas faculdades. Assim o declara David em termos peremptórios: “Não deixareis Minha alma [abandonada] no inferno” (Sl 15,10).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VI, §4)

a) gloriosa     Mas, com descer aos infernos, Cristo nada perdeu de Seu imenso poder, e nem de leve conspurcou a limpidez de Sua santidade. Pelo contrário. Esse fato mostrou, à luz meridiana, como era verdade tudo o que se havia predito de Sua santidade; e que Cristo é Filho de Deus, conforme Ele mesmo tinha antes declarado, por meio de tantos milagres (Jo 2,11; 18-22; 10,38; 13, 19; 14,29).

b) outra que a descida dos justos     Ser-nos-á fácil compreender o que aconteceu, se compararmos entre si as causas por que Cristo e outros homens desceram àquele lugar.

Todos os mais desceram aos infernos na condição de cativos (Sl 87,5ss). Cristo, porém, “livre entre os mortos” (Sl 87,6) e vitorioso, lá foi abater os demônios, que mantinham os homens presos e agrilhoados, em consequência do pecado.

Além disso, todos os outros que para lá desceram, uns eram atormentados pelo rigor das maiores penas; outros não sentiam dores propriamente, mas angustiavam-se com a privação de Deus, e com a retardança daquilo que tanto anelavam: a glória da eterna felicidade.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VI, §5)


Finalidade

a) libertar os justos     Ora, Cristo Nosso Senhor desceu [aos infernos], não para sofrer alguma pena, mas para livrar os Santos e Justos daquele doloroso cativeiro, e para lhes aplicar os frutos de Sua Paixão. Portanto, a descida aos infernos não diminuiu coisa alguma de Sua absoluta dignidade e soberania.

b) dar bem aventurança...     Depois destas explicações, o pároco ensinará que, descendo aos infernos, Cristo Nosso Senhor queria arrebatar as presas dos demônios, livrar do cárcere os santos Patriarcas e outros Justos, e levá-los ao céu em Sua companhia.

Foi o que Ele fez, de uma maneira admirável e sumamente gloriosa. Sua presença teve logo por efeito derramar entre os cativos uma luz de grande fulgor, incutir-lhes na alma um inefável sentimento de alegria e prazer, e conferir-lhes também a almejada felicidade, que consiste na visão de Deus. Realizou então a promessa que havia feito ao bom ladrão, quando lhe disse: Hoje [ainda] estarás comigo no Paraíso (Lc 23,43).

segundo as profecias...     Esta libertação dos Justos, Oséias tinha predito muito tempo antes, ao prorromper nas palavras [proféticas]: Ó morte, Eu hei de ser a tua morte; Eu hei de ser a tua ruína, Ó inferno! (Os 13,14) - O mesmo havia vaticinado o profeta Zacarias nestes termos: Tu também, por causa do sangue de tua aliança, fizeste sair teus cativos do lago, em que não existe água” (Zc 9,11). É o que afinal também exprime aquela afirmação do Apóstolo: Desarmou os principados e as potestades, e arrastou-os publicamente ao pelourinho, depois de ter, por Si mesmo, triunfado sobre eles” (Cl 2,15).

... aos justos de todos os tempos     Para melhor apanharmos o sentido deste Mistério, devemos recordar muitas vezes uma grande verdade: Todos os justos, não só os que no mundo nasceram depois da vinda de Nosso Senhor, mas também os que hão de existir até a consumação dos séculos, conseguem salvar-se [unicamente] pelo beneficio de Sua Paixão.

Corolário:

A abertura do céu...     Por esse motivo, antes da Morte e Ressurreição de Cristo, as portas do céu não se abriram jamais a nenhum dos homens. Quando passavam deste mundo, as almas dos justos eram levadas ao seio de Abraão, ou eram purificadas no fogo do Purgatório, como ainda hoje se dá com todos aqueles que tenham de lavar alguma mancha, ou de solver alguma dívida.

c) confirmar seu poder divino     Outra razão, afinal, por que Cristo Nosso Senhor desceu aos infernos, era a de manifestar ali Sua força e poder, como [o fez] no céu e na terra, para que de maneira absoluta se curvasse a Seu nome todo joelho no céu, na terra e nos infernos”.

Nesta altura, quem deixaria, pois, de admirar a suprema bondade de Deus para com o gênero humano? Quem não se tomará de espanto ao verificar que, por amor de nós, [Cristo] não só quis sofrer uma morte crudelíssima, mas até penetrar nas maiores profundezas da terra para dali arrancar, e introduzir na glória as almas que tanto amava?” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VI, §6)



117) Por que Jesus Cristo quis esperar até ao terceiro dia para ressuscitar?
Jesus Cristo quis demorar até ao terceiro dia para ressuscitar, para mostrar de modo insofismável, que verdadeiramente tinha morrido. 

118) Foi a ressurreição de Jesus Cristo semelhante à dos outros homens ressuscitados?
A ressurreição de Jesus Cristo não foi semelhante à dos outros homens ressuscitados, porque Jesus Cristo ressuscitou por virtude própria, e os outros foram ressuscitados por virtude de Deus


“Ressurgiu dos mortos”

“Vem agora a segunda cláusula do presente Artigo. O pároco deverá explicá-la com a máxima atenção, conforme insinua o Apóstolo: “Lembra-te de que Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitou dentre os mortos” (2 Tm 2,8). Não há dúvida, esta ordem dada a Timóteo se estende também a todos os mais que tenham encargo de almas.

Significação        Vejamos, pois, o significado deste Artigo. Depois que Cristo Nosso Senhor rendeu o espírito na Cruz, na sexta-feira à hora nona (pelas três horas da tarde) foi sepultado na tarde do mesmo dia, pelos Seus Discípulos.

Com a permissão do procurador Pilatos, haviam descido da cruz o Corpo do Senhor, e depositado num sepulcro, que ficava num jardim das imediações.

No terceiro dia depois da morte, que era um domingo, pela madrugada, Sua Alma se uniu novamente ao Corpo. Deste modo, Aquele que por três dias estivera morto, tornou à vida que, com a morte, havia deixado, e ressuscitou.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VI, §7)

a) Por virtude própria     Não devemos tomar o termo “ressurreição” só no sentido de que Cristo foi ressuscitado dos mortos, como o foram muitos outros; mas que ressurgiu por Sua própria virtude e poder.

Esta maneira de ressurgir só a Ele podia competir, pois que não está nas leis da natureza, nem homem algum teve jamais o poder de passar da morte à vida, por própria virtude [e suficiência]. Isto cabe unicamente ao supremo poder de Deus, como se depreende das palavras do Apóstolo: “Embora fosse crucificado na fraqueza [da carne], vive todavia pelo poder de Deus” (2 Cor 13,4).

... pela união hipostática...        Tal virtude divina nunca se separou do Corpo de Cristo no sepulcro, nem de Sua Alma, quando descera aos infernos. De um lado, estava presente no corpo, pelo que este podia unir-se novamente à alma; de outro lado, [estava presente] também na alma, pelo que esta podia voltar outra vez ao corpo. Nestas condições, foi possível [a Cristo] tornar à vida por Sua própria virtude, e ressurgir dos mortos.

segundo as profecias        Cheio do Espírito de Deus, David já o havia predito com as seguintes palavras: “Fizeram-n'O triunfar: a Sua destra e o Seu santo braço” (Sl 97,2). Além disso, o próprio Nosso Senhor o reafirmou com o Seu divino testemunho: “Largo a Minha vida, para a tomar de novo. Eu tenho o poder de largá-la, e tenho o poder de tomá- la novamente” (Jo 10,17-18). Corroborando a verdade de Sua doutrina, dissera também aos Judeus: “Arrasai este templo, e em três dias Eu o tornarei a construir” (Jo 2,19-21).

Na verdade, os judeus entenderam tal linguagem com relação ao Templo e sua magnífica construção de pedra, mas Ele falava do templo de Seu Corpo, como no mesmo lugar declaram as palavras da Escritura.

Corolário:

A Ressurreição pelo Pai        Se lemos às vezes, nas Escrituras, que Cristo foi ressuscitado pelo Pai (At 2,24; 3,15; Rm 8,11), estas passagens devem aplicar-se a Cristo em Sua natureza humana. Analogamente, devem aplicar-se, por sua vez, a Cristo em Sua natureza divina as passagens que dizem ter ressuscitado por Sua própria virtude (por exemplo Rm 8,34).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VI, §8)

b) como o primeiro dos homens...        É também um apanágio de Cristo, ter sido o primeiro de todos os homens a receber o divino beneficio da ressurreição. Por conseguinte, nas Escrituras é chamado não só o “Primogênito dentre os mortos” (Col 1,18), como também o “Primogênito dos mortos” (Ap 1,5).

O Apóstolo declara: “Cristo ressurgiu dos mortos, como primícias dos que dormem; porquanto por um homem veio a morte, assim também por um homem [vem] a ressurreição dos mortos. E como todos sofrem a morte em Adão, assim todos terão vida em Cristo. Cada qual, porém, conforme a sua ordem. Cristo como primeiro [de todos], logo mais aqueles que pertencem a Cristo” (1 Cor 15,20-23).

de modo perfeito...     Estas palavras devem entender-se no sentido de uma ressurreição perfeita, pela qual despertamos para uma vida imortal, ficando cabalmente abolida toda necessidade de morrer. Ora, em tal gênero [de ressurreição], cabe a Cristo Nosso Senhor o primeiro lugar.

sem morrer outra vez        Se falarmos, porém, de ressurreição no sentido de regresso à vida, mas ao qual se liga a necessidade de morrer segunda vez, muitos outros houve que, antes de Cristo, foram ressuscitados dos mortos. Todos, porém, tornaram a viver, sob a única condição de morrerem novamente (1 Rs 17,22; 2 Rs 4,34).

Cristo Nosso Senhor, ao contrário, ressurgiu de tal maneira que, vencendo e subjugando a morte, já não pode morrer. Confirma este fato a evidência daquela passagem: “Ressuscitado dos mortos, Cristo já não morre. A morte já não tem poder sobre Ele” (Rm 6,9).” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VI, §9)


“ao terceiro dia”

Explicação          O Artigo acrescenta ainda as palavras “ao terceiro dia”. O pároco deve, pois, explicá-las, para que os fiéis não julguem que Nosso Senhor esteve no sepulcro três dias inteiros.

Como estivera encerrado no sepulcro, pelo espaço todo de um dia natural, parte da véspera e parte do terceiro dia, podemos dizer, com toda a expressão da verdade, que [Cristo] permaneceu três dias na sepultura, e que ressuscitou dos mortos ao terceiro dia.

Motivo            Para dar prova de Sua Divindade, não quis retardar a ressurreição até o fim do mundo. De outro lado, para crermos que era homem de verdade, e que realmente tinha morrido, não ressuscitou logo depois da morte, mas [esperou até] ao terceiro dia. Este intervalo [Lhe] pareceu suficiente para demonstrar a realidade de Sua Morte.” (Catecismo Rom., Parte I, Cap. VI, §10)


Aqui termina o quinto artigo do Credo. Obrigado por acompanhar o blog. Salve Maria!